O temor de que a crise financeira possa servir de pretexto para que metas de redução das emissões de gases de efeito estufa sejam deixadas de lado não parece ecoar num dos principais emissores do mundo, a Inglaterra. O país, que tem uma relação histórica com as mudanças climáticas - foi lá que a Revolução Industrial, e o conseqüente uso massivo de combustíveis fósseis, teve início - está assumindo uma postura de liderança na União Européia para garantir que acordos já acertados continuem sendo seguidos.
Quando a crise começou a se instalar, alguns países do grupo, em especial Polônia e Itália, pediram flexibilização das metas alegando que tornar a produção mais limpa neste momento ficará caro demais. Acabaram sendo votos vencidos, mas o assunto deve permear as negociações na cúpula do clima que ocorre justamente na Polônia em dezembro próximo.
“Apesar das dificuldades econômicas, achamos que não é hora de voltar atrás nem no nosso plano climático nem no energético”, afirma Joan Ruddock, ministra do recém-criado Departamento de Energia e Mudanças Climáticas da Inglaterra. O órgão entrou em funcionamento há pouco mais de um mês para unir dois assuntos que até então eram tratados separadamente no governo.
“Resolvemos juntar as coisas porque dois terços das emissões do país vêm do uso de energia. Este é o assunto que mais temos de cuidar entre todos os outros”, explica Joan. A ministra falou com alguns jornalistas da América do Sul na semana passada sobre os planos do país para a questão.
No momento tramitam no parlamento inglês dois projetos de lei. O primeiro, de mudanças climáticas, estabelece que até 2050 serão reduzidas 80% das emissões de gases-estufa. Ele cria ainda um comitê independente de mudança climática que vai aconselhar o governo sobre uma espécie de “ orçamento de carbono” que deve ser adotado em ciclos de cinco anos, começando a partir do final deste ano. O segundo projeto, de energia, prevê metas para a transição para fontes renováveis. Já em 2020 se espera que 20% da energia consumida no país seja proveniente dessas fontes.
“Se não nos movermos para uma economia com menos carbono, nós acreditamos que não teremos um futuro. As renováveis nos oferecem potencialmente um grande futuro. Podemos criar empregos, muitos novos empregos. Sabemos que a crise será pesada em nosso país, mas não achamos que agora devemos desistir”, diz.
Ela reforçou ainda a necessidade de se estabelecer um novo acordo global em 2009, em Copenhagen (Dinamarca), que conte com a participação de países desenvolvidos e em desenvolvimento.
“Na Inglaterra somos responsáveis por cerca de 2% das emissões globais. Mesmo que fizermos tudo que é possível, em termos mundiais isso não vai resolver a questão. Por isso, além de cuidar de nossas responsabilidades, buscamos trabalhar para que se alcance um acordo global. Cada um deve entrar com diferentes contribuições, mas temos de estar nessa juntos”, diz.
(Por Giovana Girardi, Estadão, 18/11/2008)