Cerca de 20% da Amazônia correspondem a áreas alagáveis, de acordo com um novo mapa georreferenciado produzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (UCSB).
De acordo com os autores, uma das maiores limitações para estudos sobre o ciclo do carbono ou o balanço de gases do efeito estufa é a imprecisão dos dados sobre a dimensão das áreas alagáveis, responsáveis pela maior parte das emissões de metano e carbono na atmosfera.
O estudo que gerou os mapas – apresentado nesta terça-feira (18/11), durante a Conferência Internacional Amazônia em Perspectiva, em Manaus – foi realizado por Evlyn Novo, pesquisadora titular da Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe, Laura Hess, do Instituto para a Ciência Computacional dos Sistemas Terrestres (Icess, na sigla em inglês) da UCSB, e John Melack, pesquisador do Icess e da Nasa, a agência espacial norte-americana.
Por intermédio de Melack, a pesquisa iniciada na década de 1990 teve participação da Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa (Jaxa). Evlyn teve apoio da Fapesp por meio da modalidade Auxílio Regular a Pesquisa. Laura, também com apoio da Fapesp por meio da modalidade Auxílio Pesquisador Visitante, atuou como professora visitante do Inpe, onde ajudou a desenvolver e testar a metodologia de mapeamento.
"As áreas alagáveis são as principais fontes naturais de gases causadores do efeito estufa. Qualquer estimativa sobre o aumento das emissões fica distorcida se não tivermos uma linha mestra que nos permita identificar se essas emissões são antropogênicas ou naturais", disse Evlyn à Agência Fapesp.
De acordo com a pesquisadora, a quantificação dessas informações depende de dados sobre as áreas alagáveis amazônicas, que por sua vez são de difícil obtenção. "Os rios da bacia amazônica chegam a ter oscilações de nível de até 18 metros. Em algumas regiões há variações de 50 quilômetros em relação às margens. Por isso, as estimativas sobre as áreas alagáveis até agora eram muito imprecisas", afirmou.
O sensoriamento remoto, segundo Evlyn, é a solução para monitorar as áreas alagáveis da bacia, por sua grande extensão e difícil acesso. Em meados da década de 1990, o projeto teve início a partir de imagens SAR (radares de abertura sintética) obtidas pelo Jers-1 (Japanese Earth Resources Satellite-1), da Jaxa. Os sistemas SAR foram usados como alternativa aos sensores ópticos, cuja ação é limitada em regiões tropicais devido à alta taxa de cobertura de nuvens.
"Com esses dados, foram realizadas coberturas das duas fases do ciclo hidrológico da bacia: o período de águas mínimas e o período de cheias. As informações, então, foram processadas por uma cooperação entre o Inpe e a UCSB para gerar um mapa das áreas alagáveis da Amazônia inteira", disse.
A pesquisadora explica que a conclusão dos trabalhos foi demorada porque era preciso validar o mapa. "Foram feitos vários sobrevôos com uma aeronave do Inpe, para produzir uma videografia. Os resultados preliminares, que consideravam a Amazônia Central, indicavam 17% de áreas alagáveis. O resultado final, que apresentamos hoje [18/11], é o mapa para toda a Amazônia, incluindo os países vizinhos, e mostra que 20% do bioma é composto por áreas alagáveis", destacou.
Segundo Evlyn, o principal responsável pelas áreas alagadas é a flutuação dos rios da bacia amazônica, mas há também uma contribuição de outras fontes de água, como lençóis freáticos que afloram.
De acordo com ela, o mapa ajudará a preencher várias lacunas de informação científica na região. "As áreas de terra firme sempre receberam mais atenção por conta do desflorestamento e da maior extensão. Mas as áreas alagáveis – com pouca oxigenação e favoráveis à decomposição de material orgânico – têm importância crucial, porque a evasão de carbono e metano nesses sistemas é imensa. Sem considerar esses 20% da Amazônia, é impossível fechar o balanço dos estudos sobre emissões", disse.
(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 19/11/2008)