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2008-11-19

Uma pesquisa nacional de boca-de-urna realizada pelo Sierra Club nos dias 3 e 4 de novembro, isto é, o dia anterior e o da votação para presidente dos Estados Unidos revelou que 50 por cento dos eleitores decidiram seu voto ao comparar as propostas sobre política energética de John McCain e de Barack Obama. Na mesma sondagem, 62 por cento dos eleitores responderam que tinham algum conhecimento sobre a crucial questão das mudanças climáticas.

O Sierra Club, fundado por John Muir em 1892, é a maior e mais antiga organização ambientalista do mundo, conta com 750 mil associados.

Essa enquete mostrou o peso que teve a questão ambiental na atual campanha política e constatou que a promessa de Obama de promover uma agressiva política de desenvolvimento baseada em fontes de energia renovável, na busca da independência energética e na implementação de um programa de geração de milhares de empregos verdes, como base para reconstruir a economia nacional, foram os fatores decisivos para que os estadunidenses conduzissem para a Casa Branca o seu primeiro Presidente Verde.

A significativa experiência de Obama com a questão sócio-ambiental começou na sua juventude, quando ainda era estudante.

Em 1983 se graduou em Ciências Políticas na Universidade de Columbia (Nova Iorque) e dois anos mais tarde mudou-se para Chicago onde realizou um importante trabalho voluntário como advogado na defesa de direitos civis com o objetivo de melhorar as condições de vida dos habitantes dos bairros pobres dessa cidade, que se encontrava dominada pelo crime e pelo desemprego. Em 1991, Obama graduou-se em Direito pela Universidade de Harvard donde foi o primeiro editor afro-americano da Revista de Leis “Harvard Law Review”. Em 1996 foi eleito Senador do Estado de Illinois (equivalente a Deputado Estadual), tendo sido reeleito em 2000. Entre 1992 e 2004, ensinou Direito Constitucional na Escola de Direito da Universidade de Chicago. Em novembro de 2004, com 70% dos votos, foi eleito Senador dos Estados Unidos pelo Estado de Illinois.

Sem dúvida nenhuma, o maior desafio que Obama terá para resolver a partir do próximo dia 20 de janeiro é o da energia. Este tema permeia todos os outros, incluindo a crise econômica, as guerras do Iraque e do Afeganistão, da política exterior, e o não menos importante, o do meio ambiente. Os Estados Unidos com apenas 5% da população mundial consomem 25% das reservas energéticas do Planeta. 40% das suas necessidades estão baseadas no petróleo: são 3,2 bilhões de litros de diesel e gasolina por dia, quase tudo importado dos países árabes, da Venezuela e um pouco do México e do Equador.

Para responder a esse desafio Obama vem se preparando há quase dez anos, tanto como parlamentar estadual quanto federal. O seu projeto, que fora lançado durante a sua primeira campanha em Illinois e depois foi aperfeiçoado para ser aplicado em nível nacional se denomina “ Garantir a independência energética” consiste basicamente nos seguintes pontos:
- Oferecer assistência no curto prazo às famílias que pagam muito pela gasolina.
- Criar cinco milhões de trabalhos “verdes” investindo $150 bilhões nos próximos 10 anos.
- Poupar nos próximos 10 anos o equivalente das importações anuais de hidrocarbonetos provenientes do Oriente Médio e da Venezuela.
- Dispor de um milhão de carros híbridos até 2015, todos eles fabricados nos EUA, sendo que este carros devem andar pelo menos 60 km por litro.
- Gerar 10% da eletricidade utilizando recursos renováveis até 2012, e 25% até 2025.
- Implementar um programa geral “cap-and-trade” para reduzir as emissões em 80% até 2050.

Num dos seus famosos discursos, Obama afirmou que “dizer que os EUA são viciados em petróleo sem sugerir um plano real para a independência energética é como a admitir o alcoolismo e fugir do tratamento. Isso não é suficiente para identificar o desafio, nós temos que conhecê-lo. Há uma razão para que alguns comparem a busca pela independência energética com o Projeto Manhattan (que produziu a bomba atômica) ou o pouso lunar da Apollo. Assim como esses esforços históricos, se afastar de uma economia baseada no petróleo é um grande desafio que requererá um comprometimento nacional. Durante a II Guerra Mundial, nós tivemos o país inteiro trabalhando contra o relógio para produzir aviões e tanques suficientes para combater as forças do Eixo. Na Guerra Fria, construímos um sistema nacional de estradas para transportar rapidamente equipamentos militares. Quando quizemos tomar a liderança dos russos no espaço, investimos milhões numa iniciativa de educação nacional que graduou milhares de novos cientistas e engenheiros”.

A experiência de Obama em gestão ambiental foi amplamente testada pelo Partido Democrata ao ter sido convocado para organizar a Convenção que elegeu John Kerry para candidato à presidência em 2004 (perdeu para Bush). John Kerry escolheu Obama como seu principal assessor para assuntos ambientais. Nessa ocasião ele concebeu um evento onde até os mínimos detalhes estiveram em concordância com as idéias dos mais avançados Partidos Verdes. Desde o transporte até a alimentação, passando pelos cuidados com os resíduos e a reciclagem, tudo foi minuciosamente planejado. Energia eólica e solar, células de combustível, carros híbridos, iluminação controlada, balões biodegradáveis, cartazes e “santinhos” que viravam lixo hoje, se transformaram em 24 horas na matéria-prima de outros cartazes e “santinhos” para o dia seguinte. O dinheiro da compra de Certificados de Carbono, pagos pelos congressistas, foi destinado às organizações de assistência social. Nada ficou fora do cardápio verde dos Democratas. Foi um encontro de dar inveja ao mais radical dos políticos verdes, como Ralph Nader, ex-candidato do Partido Verde dos EUA. Foi uma demonstração coerente de que é possível avançar pela trilha do desenvolvimento sustentável.

No campo nuclear, a posição de Obama é muito clara: ele é radicalmente contra o desenvolvimento militar da tecnologia nuclear e não é a favor de implementar uma política energética baseada em usinas nucleares. Obama não fechará as centrais que atualmente se encontram em operação nos EUA, mas também não fará uma política de investimentos públicos neste tipo de energia. Numa recente entrevista à DW-World, Hans Blix, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), disse: “O que mais me dá esperança em Obama é o fato de ele exigir o desarmamento nuclear mundial. A Guerra Fria já acabou e não precisamos – por nenhuma razão neste mundo – de armas nucleares. É claro que é utópico achar que todas as bombas atômicas serão imediatamente destruídas. Mas, os primeiros passos nessa direção devem ser tomados. É uma posição que Obama apóia bastante. Ele quer reduzir a produção de mísseis, o que me dá muita esperança. E, assim, os Estados Unidos poderiam economizar muito dinheiro. O mundo gasta anualmente 1,3 trilhão de Euros em fins militares. A metade deste valor, 700 bilhões de Euros, são gastos pelos EUA. Obama e seu governo poderiam certamente usar melhor boa parte desta quantia em outros projetos”.

Por sua vez, Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e Diretor-Geral do The Energy and Resources Institute (TERI), disse que espera que o novo presidente dos EUA anuncie logo uma política de cara para as graves questões das mudanças climáticas. “Os Estados Unidos têm agora uma oportunidade única para assumir a liderança no campo ambiental, particularmente do clima e isto deve satisfazer todos os povos do Planeta, porque essa liderança é crítica para que os esforços globais se concatenem eficazmente nas ações contra esta ameaça. Por esta razão a eleição de Obama é um acontecimento que deve gerar muito otimismo”.

A esperança e otimismo de Pachauri tem seu fundamento nas palavras de Obama: “O assunto das mudanças climáticas é algo que ignoramos sob nosso próprio risco. No Congresso dos Estados Unidos ainda existem disputas sobre o quanto exatamente estamos contribuindo para o aquecimento da atmosfera da Terra e quanto está acontecendo naturalmente. Mas, podemos estar cientificamente certos de que o uso de combustíveis fósseis está nos levando para um ponto sem retorno. E, a menos que nos libertemos da dependência desses combustíveis fósseis e mapeemos um novo curso sobre energia neste País, nós estaremos condenando as gerações futuras a uma catástrofe global”.

A lucidez de Obama na questão do clima fica muito mais clara quando se analisam as suas palavras, como por exemplo, quando disse:
“Hoje as pessoas devem estar pensando que chegaremos ao ponto crucial da dependência energética. Nunca tornar em fracasso um simples desafio afetou tanto todos os aspectos de nosso bem-estar como nação. E nunca as possíveis soluções tiveram o potencial de fazer tanto bem às futuras gerações. Muitos estadunidenses entenderam esse ponto e o apelo pela nossa independência energética agora é o resultado de uma coalizão de distintos e surpreendentes interesses. De fazendeiros a empresários, líderes militares e oficiais da CIA, cientistas e cristãos evangélicos, executivos e sindicatos, e políticos de quase todas as tendências políticas, todos eles estão percebendo que um futuro dependente do petróleo não é um futuro seguro para este país. E ainda, quando é chegada a hora de encontrar um caminho para pôr fim à nossa dependência em combustíveis fosseis, o maior vácuo em termos de liderança, o maior fracasso em termos de imaginação, e a teimosa resistência de admitir a necessidade de proceder a mudanças políticas estão identificados nas mesmas pessoas que governam o País”.

O mundo espera que Barack Obama lidere, junto com Al Gore e o empresário T. Boone Pickens, as iniciativas em favor de uma sociedade sustentável, na qual as formas de consumo atuais não mais têm espaço para existir. Como professor de Direito Constitucional, ele sabe que um dos Direitos do Homem, no Século 21, é o Direito a uma vida saudável baseada no Princípio da Precaução, na preservação da biodiversidade e na sustentabilidade da vida.

(René Capriles, Eco21, 18/11/2008)


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