Banco de fomento concede empréstimo-ponte para linhas de transmissão de energia que pode chegar a US$ 7 bilhõesCrise global seca linhas de financiamento também para grandes projetos de infra-estrutura, e BNDES oferece crédito mais barato
Para evitar o fracasso do leilão da linha de transmissão das usinas do Rio Madeira (RO), o BNDES anunciou ontem condições mais favoráveis de financiamento do empreendimento, orçado em R$ 7 bilhões.
O banco estatal oferecerá um empréstimo-ponte até que o crédito definitivo seja aprovado, alongará o prazo de pagamento e abrirá uma linha para financiar equipamentos importados.
Pela primeira vez, o BNDES concederá um empréstimo-ponte para uma operação de grande porte. O crédito serve para que os vencedores do leilão toquem o projetos até que o financiamento de longo prazo, também concedido pelo BNDES, seja aprovado, o que pode levar mais de seis meses.
Tal modalidade é oferecida por bancos privados, mas, por causa da crise, essas linhas se fecharam. Diante disso, os interessados no leilão procuraram o BNDES, que atendeu ao pleito. Também em razão da crise, a oferta da linha de transmissão, marcada inicialmente para 31 de outubro, foi adiada para o final deste mês.
"Estamos cobrindo essa falha de mercado, provocada pela crise. Vamos substituir essas fontes, que se fecharam agora", disse Wagner Bittencourt, diretor de infra-estrutura do BNDES.
Ele disse, porém, que as taxas de juros não serão subsidiadas e seguiram o padrão de mercado antes da crise. O juro será de 14,5% ao ano, com "spread" básico de 1,3% e mais taxa de risco de 0,46% a 3,5%, dependendo do perfil do tomador.
O empréstimo-ponte está limitado a até 21% do valor total do projeto. Ao todo, o BNDES financiará 70% do empreendimento.
Quando o financiamento definitivo for aprovado pelo banco, o vencedor do leilão pagará o empréstimo-ponte. Ele será substituído pelo crédito de longo prazo do BNDES, cuja taxa de juro é menor -6,25% da TJLP (Taxa de Juro de Longo Prazo) ao ano, mais "spread" de 1,3%.
O banco estatal também ampliou o prazo total de pagamento -de 16 para 20 anos- e o período de carência -de dois para quatro anos.
"É uma operação muito complexa, com muitas dificuldades técnicas e um custo muito elevado", afirmou Bittencourt, ao justificar as condições especiais para a linha do Madeira -que terá 2.500 km de extensão.
O BNDES financiará ainda a compra de equipamentos no exterior, desde que não exista similar fabricado no Brasil. Nesse caso, o custo do empréstimo será a variação do IPCA.
Bittencourt afirmou que o BNDES tem realizado captações para atender à crescente demanda em razão da crise, que secou as linhas de crédito bancária. Esses recursos, diz, têm custo mais alto, que será repassado ao clientes.
Um exemplo é a captação de R$ 2,5 bilhões obtida junto à Caixa e ao Banco do Brasil, ao custo do CDI. Parte desses recursos será destinada aos empréstimos-ponte.
(Por Pedro Soares,
Folha de S. Paulo, 18/11/2008)