Falta de intercâmbio de espécies altera a biodiversidade.A criação de unidades de conservação, por si só, não é suficiente para garantir que a biodiversidade amazônica seja conservada, afirma a pesquisadora do Instituo Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Regina Luizão. Ela estuda há 30 anos os fragmentos de floresta que resultam do desmatamento e, como explica, essas áreas têm uma evolução diferente daquelas áreas em floresta primária, ou seja, a mata densa que tem os arredores intocados.
Os fragmentos de floresta ocorrem com muita freqüência nas regiões de colonização apelidadas de "espinhas-de-peixe", em que estradas cortam a mata e abrem caminho para o desmatamento. Em meio aos pastos ou lavouras, restam algumas faixas de floresta, que são o objeto do estudo da professora.
A cientista e seus colegas de pesquisa observaram que espécies "colonizadoras" das áreas desmatadas ao redor dos fragmentos entram pela floresta. "Verificamos áreas em que a colonização vinda das capoeiras, em 30 anos, avançou 500 metros para dentro das ilhas de floresta". Com isso, os fragmentos apresentam tipos de plantas e animais diferentes das áreas de mata contígua.
Isso é um problema principalmente nos pequenos trechos em áreas de muito desmatamento. "Se tivemos um avanço de quinhentos metros das espécies colonizadoras, no caso de um fragmento de hectare (área equivalente, por exemplo a um quadrado de 100 por 100 metros), o que há de original lá dentro?", questiona a professora.
"Ao criar reservas se está preservando a biodiversidade. A questão é qual biodiversidade", comenta. Ela alerta ainda para o fato de que a Amazônia tem espécies cuja presença se restringe a áreas pequenas e que, se tiverem o habitat destruído, irão desaparecer. "É o caso do sauim-de-coleira, que hoje chamamos de sauim-de-Manaus, porque só existe nesta região (da capital amazonense)", cita. Segundo a professora, ele habita as florestas da área urbana e pode desaparecer se elas não forem conservadas.
Regina Luizão participa da Conferência Internacional Amazônia em Perspectiva, que vai reúne os grupos de pesquisa que atuam na região, em especial as comunidades científicas do LBA (Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), GEOMA (Rede Temática em Modelagem Ambiental da Amazônia) e PPBio (Programa de Pesquisa em Biodiversidade).
(Por Dennis Barbosa
, Globo Amazônia,G1, 17/11/2008)