A Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Oiutrem está convocando a população do município de Matilde, em Alfredo Chaves, sul do Estado, para discutir no próximo sábado (22), a destinação dos recursos hídricos da região. O objetivo é conciliar a conservação da natureza com a melhoria da qualidade de vida da população local.
Entre as principais atividades econômicas de Matilde está o cultivo de café e banana, e a expectativa é orientar a comunidade, que trabalha em conjunto com a RPPN, a aproveitar melhor a água. Das nascentes que se situam na reserva, sete abastecem propriedades da região.
Além da preservação do recurso hídrico, a intenção da reunião é também promover o desenvolvimento sustentável de forma integrada com a comunidade. Entre os moradores, a informação é de que a monocultura do eucalipto está mudando a paisagem na região. A preocupação se deve ao êxodo de jovens trabalhadores rurais e elevado consumo de água que os eucaliptais exigem.
A expectativa é que além de despertar uma consciência ambiental entre a comunidade, seja despertada também entre os agricultores a consciência de fiscalização, para que os abusos sejam denunciados, assim como a contaminação das águas provocadas pelo intenso uso de agrotóxico nos eucaliptais.
Atualmente existem dois projetos em desenvolvimento na Reserva Oiutrem, o da Hepertofauna – nomenclatura que indica o grupo de répteis e anfíbios - e o projeto de manejo da abelha urucu-preta.
O projeto de herpetofauna foi criado para analisar aspectos ecológicos e de conservação dos répteis e anfíbios residentes na Reserva Particular do Patrimônio Nacional (RPPN) Oiutrem. Os pesquisadores Rodrigo Ferreira e Roberto Dantas coletam as espécies para identificá-las, listando, inclusive, aquelas com possíveis ameaças de extinção. A herpetofauna é importante para a biodiversidade porque possibilita o controle de populações de insetos e outros invertebrados.
Já o manejo das abelhas tem como base pesquisa da Melípona capixaba (abelha urucu-preta), que está na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo o diretor e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e um dos maiores estudiosos das abelhas no Brasil e no mundo, Warwick Estevam Kerr, as abelhas participam de até 90% da polinização das plantas da mata atlântica no Espírito Santo, ajudando na formação de frutos. No Estado, ocorrem 23 espécies dessas abelhas.
Na região da reserva é possível encontrar espécies da flora como Abricó, Bromélia, Cedro, Embaúba, Brejaúba, Camará, Ipê, Jasmim, Jequitibá-açu, Jussara, Orquídea, Palmito e da fauna como: barbado, gambá, inhambu, jacu, paca, sagüi-tatu, veado-mateiro, tucano, tatu, entre outros.
O distrito de Matilde, em Alfredo Chaves, fica a 85 km ao sul de Vitória, e é conhecido por sua cachoeira de Matilde, com a maior queda livre do Estado, com 60 metros de altura.
A RPPN fica a 700m de altitude, possui 60 hectares de matas primárias e também secundárias, em vários estágios de regeneração. A biodiversidade é riquíssima, sendo um dos principais motivos que respaldaram a transformação da área em uma unidade de conservação. São dezenas de espécies da fauna e flora da mata atlântica, incluindo muitas raras, ameaçadas de extinção e endêmicas da região serrana.
Além da Melipona capixaba, a RPPN também promove pesquisas sobre orquídeas. Dentro da RPPN é possível encontrar ainda nascentes, dois córregos da bacia hidrográfica do rio Benevente (córrego Geladeira e córrego do Mel) e duas pequenas cachoeiras.
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Século Diário, 18/11/2008)