Além de lápis, cadernos, livros e giz, o kit de material escolar dos professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Victor Sartori, em Santa Maria, inclui, há alguns meses, tubos de inseticidas.
Todos os dias, antes de os alunos entrarem em sala de aula, uma funcionária ou os próprios professores vão de sala em sala aplicando o veneno. O objetivo é espantar ou, ao menos, amenizar a presença de insetos no local de aula. Os mosquitos têm sido companhia para os cerca de 500 estudantes do colégio desde a metade do ano, quando as caixas de esgoto do prédio transbordaram.
- É muito ruim. Além dos mosquitos, ainda tem o cheiro que vem de lá - reclama Isabela Marques Kumer, 10 anos, que estuda no 6º ano do Ensino Fundamental.
- Quando chegamos pela manhã, temos de bater as cortinas para espantar os mosquitos - completa a professora de História Bernadete Tólio.
A presença dos insetos em sala de aula se intensificou em julho, quando as caixas de esgoto cloacal (de dejetos) que ficam no pátio da escola encheram e transbordaram. Segundo a diretora da instituição, Rossiane Segatto, após uma série de pedidos - todos registrados por meio de ofícios guardados nos arquivos da escola - , a Secretaria Municipal de Obras encaminhou uma equipe para desentupir os canos. A professora conta que, para resolver o problema, a prefeitura abriu uma vala, no pátio dos fundos da escola. O problema é que o esgoto, que agora escorre para a valeta, fica a céu aberto, perto das janelas das salas. Com o calor dos últimos dias, a situação piorou muito. O cheiro desagradável e os mosquitos acabam invadindo o local de estudo dos alunos.
- A prefeitura fez essa valeta para tentar escoar o esgoto, e nunca mais ninguém veio tapar. Se a Vigilância Sanitária visse essa situação, iria se assustar - diz a diretora da escola.
Veneno - Para amenizar o problema, a saída encontrada pelos professores foi comprar inseticidas. Cada tubo custa, em média, R$ 6. O veneno é aplicado nos intervalos das aulas. Segundo Rossiane, são consumidos uma média de três ao dia. O gasto mensal com inseticidas chega a cerca de R$ 300 ao final do mês. Dinheiro que, segundo a diretora, sai dos R$ 2 mil encaminhados a cada dois meses pela prefeitura às escolas para ser usado em manutenção.
- É complicado justificar aos pais que, ao invés de estarmos investirmos em materiais para a manutenção da escola, temos de comprar veneno contra mosquitos - afirma o professor Regis Villanova.
A diretora do colégio afirma que são tomados todos os cuidados na utilização do inseticida para não haver risco à saúde dos alunos. Segundo ela, o tempo entre a aplicação e uso do local é de mais de uma hora.
A prefeitura alega que o problema teria sido causado por obras particulares e um terreno perto do colégio. Segundo a assessoria de imprensa, o material para a canalização da vala foi comprado e o serviço deve ocorrer entre quarta e sexta-feira.
(Diário de Santa Maria, 17/11/2008)