Funcionários dos escritórios da Emater-MG são os principais responsáveis pela prestação de serviços de apoio aos pequenos agricultores do norte de Minas Gerais para a convivência com a seca.
Os técnicos entendem que uma nova realidade na região, com desenvolvimento sustentável consolidado, ainda exigirá, além do reforço no auxílio, mudanças profundas de comportamentos tradicionais nas lavouras.
“A produção de alimentos e a disponibilidade de água para consumo humano estão muito relacionados com a questão da conservação do solo e do tipo de exploração que a gente vê na região, que é muito degradadora. Os produtores trabalham o solo pensando apenas na produção para aquele ano e não fazem uma programação sustentável”, argumentou o coordenador regional de meio ambiente do escritório da Emater-MG em Janaúba, José Godrim.
“O papel da Emater é tentar colocar em prática essa cultura de preservação, para que as pessoas façam uso das propriedades respeitando as matas ciliares e as vegetações de topo. Para ter água disponível, tem que ter mais cuidado com o solo”, acrescentou. Godrim cita como exemplos de práticas inadequadas comuns na região as queimadas, o desmatamento e a mecanização descontrolada. Quadro que, segundo ele, se não for revertido, pode levar à uma futura desertificação.
Uma parceria entre órgãos federais e estaduais viabilizará nos próximos dois anos investimentos no manejo integrado de bacias hidrográficas da região. Assentamentos e comunidades quilombolas de seis municípios também receberão intervenções para cercamento de nascentes e da mata ciliar, construção de bacia de captação de água de chuva e barragens subterrâneas.
Apesar das várias reclamações ouvidas pela Agência Brasil por parte de produtores da região, quanto à ineficiência da assistência técnica prestada, o coordenador regional de culturas da Emater em Janaúba, Arquimedes Batista, sustentou que há sim um trabalho efetivo na região.
“Temos incentivado e disseminado o plantio de sorgo, que substitui em até 100% o milho. Com os veranicos ou períodos longos de estiagem ele entra em dormência e não compromete a produção”, disse Arquimedes, ao ressaltar ainda o algodão, a mamona e variedades novas de feijão como as culturas com melhor potencial na região.
O coordenador de culturas também lembrou a distribuição de sementes dentro do programa “Minas sem Fome”, do governo do estado. “De quatro anos para cá temos distribuídos sementes direcionadas para a região, com o repasse de sementes de sorgo e feijão para os agricultores familiares”. A distribuição foi confirmada por agricultores da região, mas segundo alguns deles, ela acontece via sindicatos, o que acarretaria desvios e distribuições desiguais.
Na pecuária, a perda de animais nos últimos dois anos foi resultado da combinação da estiagem com a ocorrência de pragas. “Na seca do ano passado e desse ano o que mais prejudicou foi os grandes veranicos que ocorreram entre as chuvas. Houve também um ataque de cigarrinhas, que matou parte das pastagens. Com a vinda da chuva, a pastagem tava morta, o gado ia comendo e não dava tempo de recuperar, o que fez agravar mais para este ano”, descreveu Arquimedes.
Ele reclamou que a exposição pela imprensa de animais mortos prejudica a imagem da região e não reflete o potencial de desenvolvimento existente. Mas demonstrou ciência de que a realidade não é das melhores, ao comentar o fato de muitos municípios terem decretado estado de emergência.
“Houve prejuízos circunstanciais e a economia desses municípios é quase 100% rural. O comércio representa pouco. Então, quando se calcula uma perda de 40% a 50% da produção, isso reflete em toda a região”, admitiu.
(Por Marco Antônio Soalheiro, Agência Brasil, 16/11/2008)