Além de bares e casas noturnas, as britadeiras e os gritos dos peões também perturbam o sono do paulistano
O aumento das obras realizadas à noite está criando um novo mapa do barulho na cidade de São Paulo. Além dos bares e das casas noturnas, atualmente as britadeiras, os caminhões-betoneira e os gritos dos peões também perturbam os paulistanos no horário em que a maioria está dormindo. De acordo com dados do Programa de Silêncio Urbano (Psiu), a média mensal de reclamações de obras noturnas cresceu 83% em relação ao ano passado.
Em 2006, as queixas de moradores incomodados com esse tipo de barulho eram tão poucas que a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras nem sequer discriminava tais dados. No ano passado, foram aproximadamente 110 reclamações por mês. E o número saltou para 199,5 mensais, em média, de janeiro a outubro deste ano - representam 7,17% do total das queixas.
A pedido do Estado, o arquiteto Eliseu Genari, pesquisador de acústica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), mediu os ruídos em 15 pontos da cidade. O resultado mostrou que, durante o dia, o trânsito, os aviões de Congonhas e os gritos na Rua 25 de Março continuam apresentando riscos para as pessoas que permanecem longos períodos nessas áreas. À noite, os problemas são os bares da Vila Madalena e as obras que extrapolam o recomendado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Uma possível explicação para o aumento de reclamações de obras à noite é o início, em 30 de junho, das restrições para caminhões durante o dia em uma área de 100 km² dentro do centro expandido. As empresas se viram obrigadas a transferir suas entregas para a noite e, para compensar a falta de materiais durante o dia, muitas empreiteiras começaram a trabalhar de madrugada.
O secretário de Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, refuta essa tese. Para ele, foi o aquecimento da economia vivido antes da atual crise que impulsionou o setor de construção civil e levou a essa situação. Em relação à elevada quantidade de reclamações, Matarazzo diz que é um sinal de que o Psiu é eficaz. "Esse número vai continuar alto por um tempo, mas vamos manter uma fiscalização forte para que os estabelecimentos se conscientizem. Aí, sim, reduziremos as queixas", explica o secretário.
De janeiro a outubro deste ano, o Psiu recebeu 37.010 reclamações, número 22% superior ao mesmo período de 2007. A Subprefeitura de Pinheiros é a campeã de queixas, principalmente por causa dos bares das Vilas Madalena e Olímpia. A Prefeitura não detalhou os números pós-restrição a caminhões.
(Por Edison Veiga e Renato Machado, Estadão, 15/11/2008)