Os sucateiros de São Paulo já começaram a sentir os efeitos da crise financeira internacional. De acordo com um sucateiro e duas entidades da classe ouvidos pela Agência Brasil, a queda nas vendas foi impulsionada pela falta de interesse das indústrias siderúrgicas. "O preço da sucata é regido pela oferta e procura. Se não há procura, os preços despencam", explicou José Antônio Arívalo Jr., presidente do Instituto Nacional de Empresas de Preparação de Sucata (Inesfa).
Segundo Arívolo, o preço despencou, em média, 40% este mês. Há uma previsão de que a queda chegue a 60% até o final de dezembro. "Fazemos parte da cadeia produtiva do aço. Sem demanda para o aço, não há demanda para nós", disse.
O catador Sergio da Silva Bispo afirmou que a situação nas ruas está grave. "Tem gente que não tem mais como pagar o aluguel e terá que morar nas ruas novamente", disse. Ele faz parte de uma cooperativa de catadores e catadoras de sucata no bairro do Cambuci, na cidade de São Paulo, que se organiza para recolher materiais reclicláveis e vender para empresas. Antes da crise, os catadores ganhavam cerca de R$ 700 por mês com seu trabalho. Neste mês, receberam R$ 350.
"Como o preço baixou, tem bastante material na rua porque as empresas e condomínios não têm interesse em vender", disse.
Segundo Bispo, o preço do quilo do ferro, por exemplo, caiu de R$ 0,45 para R$ 0,10. Já o papelão foi de R$ 0,30 para R$b 0,05 o quilo, enquanto o alumínio caiu de R$ 3,50 para R$ 2,20.
"Ouvi dizer que as siderúrgicas não estão exportando para a China e por isso não estão mais comprando", disse o catador.
O presidente do Inesfa avaliou que a crise é por uma questão de confiança. "As pessoas estão com medo de comprar e não conseguir pagar. É mais uma crise de medo do que instituída de fato", acredita.
O presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata (Sindesfa), Sérgio Camarini, já pensa em organizar os catadores para tentar exportar o material. "Estamos estudando um projeto para vender para China e União Européia", disse.
Já Arívolo, presidente do Inesfa, é mais otimista e prevê uma melhora para 2009. "As medidas do governo vão impulsionar as indústrias siderúrgicas, automobilísticas e da construção, e a economia não vai parar. Os negócios devem voltar no primeiro trimestre do ano que vem", prevê.
(Por Ivy Farias, Agência Brasil, 14/11/2008)