Com uma das maiores reservas de carvão lignito do mundo no território, Victoria autoriza o uso de captura e armazenamento de carbono para reduzir emissões de gases do efeito estufa
Victoria se tornou nesta semana o primeiro Estado da Austrália a aprovar uma legislação sobre o uso da captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) a partir de 2010. A lei permitirá o seqüestro dos gases do efeito estufa de fontes emissoras, principalmente as usinas produtoras de energia, e o armazenamento geológico em alto mar.
Com 80% da geração elétrica sendo produzida a partir do carvão, a Austrália já deixou claro em diversos relatórios que a tecnologia do CCS será fundamental para o país reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE).
O estudo mais recente foi lançado há duas semanas pelo Tesouro Federal, no qual o governo usa modelos de cenários futuros para mostrar os custos e oportunidades para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
“A nova Lei de Seqüestro Geológico de Gases do Efeito Estufa dará a segurança legal e regimental necessária para incentivar os investimentos nesta e em outras tecnologias de energia limpa”, disse o ministro de recursos e energia da Austrália, Peter Batchelor, ao jornal Express, do Vale Latrobe, região localizada no estado de Victoria que possui uma das maiores reservas de carvão lignito do mundo.
O lignito é o único tipo de carvão estritamente biológico e fóssil, formado por matéria orgânica vegetal e com elevado teor de carbono na constituição (65 a 75%). Por ter sofrido menos pressão, é encontrado próximo à superfície, o que torna sua exploração mais fácil e barata.
Batchelor afirmou ainda que facilitar o desenvolvimento de tecnologias como o CCS e energia renovável é uma peça chave para alcançar o objetivo de reduzir as emissões de GEE do país em 60% aos níveis de 2000 em 2050.
“A tecnologia CCS tem um papel vital para garantir o uso sustentável da nossa vasta reserva de carvão lignito na Vale Latrobe”, ressaltou o ministro.
Críticas
A gigante do petróleo, Exxon Mobil, criticou o excesso de esperança demonstrado nos relatórios do Tesouro australiano com relação ao uso do CCS como a saída para um futuro com baixas emissões, afirmando que ainda não existem provas da eficiência desta tecnologia.
“As pessoas falam de CCS com loquacidade sem entender os custos para fazer com que isso funcione e os custos que virão se isto não funcionar”, disse o diretor das refinarias da Exxon Móbil na Austrália e Nova Zelândia, Glenn Henson, ao BusinessDaily.
Henson alertou que as companhias não conseguirão competir com a importação de petróleo mais barato devido aos custos que as refinarias australianas terão que pagar quando o comércio de emissões entrar em vigor.
No relatório do Tesouro Federal, usado como argumento para pressionar a aprovação de um esquema de comércio de emissões em 2010, o governo diz que tal proposta seria economicamente viável se os moradores pagassem AU$ 7 (R$ 10,5) a mais por semana pela eletricidade e gás e se nenhuma indústria deixasse o país.
Henson diz que o governo federal subestima a complexidade e os custos do CCS. “Nós estamos envolvidos com esta tecnologia há anos e, sugerir que em 15 anos o setor de carvão irá replicar toda a infra-estrutura que no setor de petróleo levou 50 anos para ser construído é algo irreal”, destacou.
Em todos os cenários dos modelos apresentados no relatório, a Austrália manteria o crescimento econômico ao mesmo tempo em que atingiria as metas de redução de emissões e o CCS estaria em operação entre 2026 e 2033.
Energia geotérmica e CCS
Segundo o Herald Sun, um dos grandes beneficiados com a nova lei será a empresa Greenearth, especializada na exploração de energia geotérmica. O diretor-executivo da Greenearth, Mark Miller, diz que a empresa estava atenta ao potencial de ter um benefício duplo com o carbono, uma vez que é possível enterrar carbono em locais que estão gerando energia geotérmica.
A empresa já entrou com uma solicitação junto ao governo federal para receber AU$ 50 milhões (US$ 32,8 milhões) de um fundo de energias renováveis para exploração nas regiões do Vale Latrobe e da Península Bellarine.
Miller diz que a empresa já encontrou sistemas hidrológicos que suportam a geração de eletricidade a partir da energia geotérmica próximos ao Vale Latrobe.
A queima de carvão para geração elétrica nesta região, hoje com maior concentração de emissões de GEE da Austrália, faz com que ela seja o local ideal para o uso de CCS.
Diferente de pioneiros com experiência em escavações profundas como a Geodynamics, a Greenearth pretende usar aqüíferos geotérmicos mais rasos e levemente mais frios para produzir eletricidade. A Geodynamics espera poder começar a fornecer energia limpa a partir de uma usina piloto de um megawatt para a cidade de Innamincka, em uma região menos povoada, longe da costa, ao sul da Austrália.
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil/Envolverde, 15/11/2008)