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proteção da vida marinha
2008-11-14

Mil pontos de luz iluminam as profundezas dos oceanos. Unidos há oito anos por esta rede brilhante, mais de dois mil cientistas de 82 países completarão em 2010 a pesquisa do Censo da Vida Marinha. “Tem sido um período extraordinário, de novas e excitantes descobertas e atemorizantes revelações sobre o modo como os oceanos mudam”, disse o biólogo marinho canadense Paul Snelgrove, diretor da equipe que compila as conclusões dos 17 projetos do Censo. “Espantamos-nos ao descobrir pequenos crustáceos jamais vistos pelos cientistas a 500 metros de profundidade, no golfo do México”, disse Snelgrove à IPS.

O Censo documentou que mais de 90% dos maiores predadores marinhos – grandes tubarões, atum peixe-espada, bacalhau e outros – desapareceram e que as espécies sobreviventes estão em sérios problemas. “Também observamos evidências da mudança climática em variações da distribuição das espécies”, acrescentou o biólogo. Igualmente importante é a colaboração de cientistas do Norte industrial e do Sul em desenvolvimento, segundo o informe 2008 sobre o Censo, apresentado esta semana na Conferência Mundial sobre Biodiversidade Marinha em Valência, na Espanha. Antes do Censo, os especialistas se concentravam em questões nacionais ou regionais. Portanto, os mesmos bancos de peixes eram contados duas ou três vezes, na medida em que cruzavam de uma jurisdição marinha nacional para outra, por isso as populações eram subestimadas.

O trabalho conjunto de cientistas de países do Norte e do Sul será um dos grandes legados do Censo, vital para as pesquisas e o manejo futuro dos oceanos, disse Snelgrove. “A difusão do primeiro Censo em 2010 será um marco para a ciência, um êxito de proporções históricas”, afirmou Ian Poiner, presidente do Comitê Internacional de Direção Científica do projeto e diretor do Instituto Australiano de Ciências Marinhas. “A dedicação e a cooperação estão permitindo que o mais complexo programa sobre biologia marinha jamais realizado cumpra seu cronograma e alcance seus objetivos. Quando tudo começou, muitos observadores não consideravam que isto tudo seria possível”, acrescentou.

Os cientistas conheceram em Valência a descoberta de um novo predador, que vive a mais de 7.200 metros de profundidade em águas do estreito japonês de Ryukyu, que era considerado deserto: uma espécie de medusa que “voa como um caranguejo com duas caudas”. Entre os maiores esforços de exploração atualmente em curso dentro do Censo se encontram 18 cruzeiros científicos no oceano Antártico, como parte do Ano Polar Internacional. “Nada do que está sendo feito jamais foi realizado”, disse à IPS Ron O’Dor, especialista em lulas que participa do Censo. Os cientistas chegaram à conclusão de que o ancestral comum a todos os polvos de águas profundas do mundo ainda vivem nos mares austrais, acrescentou.

Quando o Censo foi lançado em 2000, os cientistas sabiam que fariam muitas descobertas. De todo modo, foram surpreendidos pela velocidade com que foi desenvolvida nova tecnologia para explorar os oceanos. “Jamais imaginei que teríamos um barco de onde pudéssemos avistar um camarão a três mil metros de profundidade no meio do Atlântico”, afirmou O’Dor. Dispositivos de rastreamento em miniatura e redes eletrônicas submarinas começam a revelar “o panorama global do movimento dos animais, seja girando em redemoinhos do tamanho da Irlanda ou viajando oito mil quilômetros através das bacias oceânicas”, acrescentou.

Em 2010 o Censo produzirá mapas globais da riqueza de espécies dos oceanos. Também oferecerá uma completa lista das espécies marinhas conhecidas, que se situariam entre 230 mil e 250 mil, e novas estimativas sobre o que ainda está por ser descoberto. Além disso, haverá paginas na Internet para a grande maioria das espécies conhecidas, compiladas em cooperação com a Enciclopédia da Vida, bem com identificadores de DNA de muitas delas para facilitar as futuras descobertas. O máximo legado do Censo é ter conseguido que muitos façam nadar sua atenção e imaginação pelos oceanos, menos conhecidos ainda do que a superfície da lua.

O projeto “inspirou muitos cientistas de todo o mundo a realizar este tipo de tarefa”, disse Snelgrove. Esta detalhada visão dos oceanos também revela a urgente necessidade de cuidar melhor deles. Tanto O’Dor quanto Snelgrove disseram que falta algum tipo de proteção e governabilidade. Snelgrove tentará sintetizar os 10 anos de pesquisas e produzir, até 2010, pelo menos três livros: um estudo sobre a vida marinha, outro com capítulos dedicados a cada grupo de trabalho e um terceiro sobre a biodiversidade. Um dos projetos mais fascinantes do Censo é a reconstrução histórica dos oceanos no passado recente (cerca de 500 anos) e uma projeção de como poderão ser no futuro. “Isso será um trabalho-chave, talvez o mais importante”, afirmou Snelgrove.

(Por Stephen Leahy, IPS, Envolverde, 13/11/2008)


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