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Etnoturismo
2008-11-14
Em relação à idéia recentemente divulgada pelo governo do Acre de lançar roteiros turísticos com destino a aldeias indígenas amazônicas, o coordenador Regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da Amazônia Ocidental, Lindomar Dias Padilha, disse que, até agora, desconhece a oposição pública de qualquer entidade indígena ao projeto e acredita que isso se deve ao fato de os índios não terem sido consultados sobre a implantação do plano.

"Nenhuma comunidade se posicionou, creio eu, por total ignorância.  Houve o mesmo [falta de diálogo] recentemente, com relação à exploração de petróleo e gás natural", lembrou.

Segundo Lindomar, o Cimi não pretende tomar uma atitude pública com relação ao assunto, mas buscará conversar com as diversas comunidades envolvidas para lhes fornecer informações sobre os riscos que o turismo em aldeias pode trazer e o que realmente está por trás de um plano como esse.  "Só escolhe autonomamente quem possui informação adequada", concluiu.

O coordenador também acredita que o estado do Acre tem intenção de aumentar sua arrecadação de tributos com essa iniciativa, mas o maior interesse em jogo é dos ricos, que precisam aliviar o peso da culpa pelo mal que causam ao meio ambiente, demonstrando valorizar a cultura de quem mais vem sofrendo com essas intervenções.  "Mas, não se pergunta se isso será bom para os povos indígenas", acrescentou.

Segundo informações do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Acre, que ajuda a estruturar os roteiros turísticos às aldeias da região, os próprios índios pediram a ajuda do governo para explorar a atividade turística na área onde vivem.  De acordo com a entidade, alguns dos indígenas teriam, inclusive, comprado um barco maior para transportar os visitantes e também construído banheiros de padrão rústico nas aldeias.

Lindomar rebate essas declarações, dizendo que é difícil acreditar na idéia de os habitantes das aldeias terem pedido para participar de um projeto de turismo, já que muitos deles vivem em estado de abandono.  Segundo o coordenador do Cimi, quando o governo diz que algo é bom e o faz de forma repetitiva acaba por convencer.  "A questão de fundo é: como os povos indígenas vão viver dignamente em suas terras sem que precisem de presentinhos?", questiona.

Ainda de acordo com ele, não há dúvida de que a possibilidade de alguns indígenas terem aceitado o ecoturismo, ou etno-turismo, decorre da influência de uma parte da sociedade que pretende transformar esses povos em seres exóticos, transpostos do passado para o presente, na forma de museus vivos, passíveis de receber visitas.

Ele também se pergunta quando o país assumirá a dívida histórica que tem com os índios.  "Só nesta regional da Fundação Nacional do índio (Funai), falta a demarcação de 17 terras indígenas.  Em circunstâncias como essa, o turismo parece engodo", acrescenta.

Obras de infra-estrutura e impactos ambientais
De acordo com informações do Sebrae, para o turista que exige um nível mínimo de conforto, já há pousadas ou áreas de camping nas proximidades dos locais onde vivem os índios acreanos.  Quanto à possibilidade de se construírem outras obras de infra-estrutura nas aldeias como forma de oferecer mais conforto, Lindomar diz que a medida seria bem-vinda, caso voltada a beneficiar os povos indígenas.  No entanto, conforme o coordenador, tais melhorias somente foram pensadas no instante em que passaram a ser convenientes para satisfazer eventuais visitantes.

Os estudos de impacto ambiental são exigências decorrentes de normas adotadas pelo Ministério do Meio Ambiente para a liberação de qualquer obra de infra-estrutura, sendo que tais empreendimentos inevitavelmente geram impactos ao local de sua execução.  Diante disso, para Lindomar, é preciso que se calculem quais serão os efeitos da realização de obras nas aldeias, antes que essas sejam iniciadas.

Os povos atingidos
Os índios Ashaninka mantêm um estilo de vida muito próximo de seus costumes historicamente tradicionais, com algumas adaptações à realidade dos novos tempos.  A maior referência desse povo é a aldeia Apiwtxa, no Rio Amônia.  Os Yanawa também mantêm seus hábitos originais preservados e realizam um festival de apresentação de sua cultura, atualmente oferecido aos turistas.  Os Poyanawa, por sua vez, localizam-se nas proximidades do município acreano de Mâncio Lima e mantêm contato com a sociedade não indígena há muito tempo.

Choque cultural
Para o coordenador, as possíveis conseqüências do contato com o homem branco, aos índios que ainda preservam sua cultura, são várias e podem trazer doenças para os índios ou até mesmo a extinção de um povo.  Lindomar diz que a relação com o universo não-índio pode criar, aos indígenas, um modismo (o turismo, por exemplo) ou a perda total da sua língua materna, bem como a destruição de grande parte de sua estrutura social tradicional.

O projeto do governo do Acre
O governo do Acre divulgou recentemente o plano de incentivar a realização de roteiros turísticos em aldeias indígenas da Amazônia.  O anúncio foi feito durante a feira e o congresso da Associação Brasileira de Agência de Viagem (Abav).  Os pacotes turísticos incluirão a hospedagem de visitantes em aldeias, onde será possível praticar atividades nativas, como caça e pesca, além de conhecer a culinária indígena.  Os locais previstos aos passeios são as aldeias dos Poyanawa, Ashaninka e Yanawa, povos mais bem estruturados entre as 14 etnias acreanas.

Durante o a apresentação do projeto, a gerente estadual de serviços turísticos, Ediza Pinheiro de Melo, disse que os primeiros turistas a demonstrar interesse pela idéia foram os estrangeiros, mas há a intenção de se despertar tal curiosidade por uma experiência cultural diferente também nos brasileiros.  "A oportunidade é extraordinária", disse ela.

(Amazonia.org.br, 14/11/2008)

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