A divulgação dos resultados trimestrais dos fabricantes de papel da Europa e da América do Norte aumentou a preocupação da indústria de celulose. Diante da retração da economia mundial, os fabricantes de papel decidiram suspender parte de sua produção. Para as empresas brasileiras fabricantes de celulose, a notícia significa redução da demanda pelo insumo. Entre os maiores fabricantes de papel do mundo estão companhias como a sueco-finlandesa Stora Enso e a finlandesa UPM, que aparecem na lista das indústrias que readequarão as capacidades.
Apontada como a maior empresa do mundo no segmento de papéis, a Stora Enso informou em seu balanço de terceiro trimestre que a demanda por papel na Europa durante o quatro trimestre deverá ficar abaixo da registrada no mesmo período de 2007. Os produtos cuja demanda apresenta retração mais significativa são os papéis utilizados na produção de revistas e jornais, além de itens gráficos. Para alinhar sua capacidade de produção a uma realidade marcada pela redução da demanda e pela elevação dos custos de produção, a Stora Enso anunciou no último dia 4 de novembro o fechamento de linhas de produção com capacidade anual de 140 mil toneladas de papel utilizado na produção de revistas.
Em setembro, a empresa havia informado o fechamento de uma capacidade de 190 mil toneladas anuais de papéis utilizados no segmento de embalagens. As reduções de capacidade devem ser efetivadas até o final do ano. A decisão pelos fechamentos, segundo a empresa, foi fundamentada no excesso de oferta no mercado europeu, no fortalecimento do euro frente ao dólar e no aumento dos custos com energia e madeira. Este último item terá um agravante a partir do início de 2009, quando o imposto de exportação de madeira russa saltará dos atuais 15 euros por metro cúbico para 50 euros por metro cúbico. A UPM também destacou em seu balanço de terceiro trimestre que a demanda por papel na Europa está em queda, assim como na América do Norte. No caso da China, a demanda dá sinais de desaceleração.
Redução da oferta
Por isso, a empresa prevê que as vendas de papel no quarto trimestre serão até 200 mil toneladas inferiores àquelas registradas no mesmo intervalo de 2007. Há menos de dois meses, a companhia havia anunciado planos de suspender as operações das fábricas menos competitivas que mantém na Finlândia. Nesta lista aparecem as fábricas de Kajaani, com capacidade anual de 640 mil toneladas, principalmente de papel jornal e papéis não-revestidos, e da fábrica de Tervasaari, cuja capacidade anual é de 210 mil toneladas anuais de celulose.
A redução da oferta deverá ser colocada em prática ainda em 2008. Para as empresas instaladas na América do Norte, o discurso alarmista se repete. A norte-americana International Paper (IP) destacou nos resultados preliminares divulgados no último dia 30 de outubro que a demanda por seus produtos continua em desaceleração e que, para enfrentar esse cenário, a solução será "gerenciar as capacidades" de suas fábricas. Entre setembro e outubro, a IP anunciou a suspensão da produção em duas fábricas de papel localizadas nos Estados Unidos. Juntas, as unidades têm capacidade anual de quase 700 mil toneladas de papéis utilizados na produção de embalagens.
Para as fabricantes brasileiras de celulose, o cenário só não se mostra mais adverso porque muitos produtores do insumo utilizado na produção de papel também decidiram rever suas capacidades de produção. Este é o caso da finlandesa Botnia, que anunciou planos de reduzir a oferta de celulose de suas fábricas localizadas na Finlândia e da unidade instalada no Uruguai. No continente europeu, o corte da oferta será de 50 mil toneladas durante o quarto trimestre de 2008. Já a unidade de Fray Bentos deixará de produzir 40 mil toneladas no período. A sueca Södra também anunciou a decisão de parar a linha de produção de uma de suas fábricas por dez dias. O impacto da paralisação no total negociado pela empresa não foi informado. As canadenses Tembec e Canfor também anunciaram redução na oferta de celulose. O corte conjunto será de quase 100 mil toneladas do insumo.
Estrangeiras
A princípio, a maior parte dos anúncios das duas empresas está limitada a operações de corte de produção por um período determinado, também durante o quarto trimestre. Essas reduções de oferta, associadas à decisão de empresas como Aracruz, Suzano Papel e Celulose e Votorantim Celulose e Papel (VCP) de limitar a produção de celulose, deverá reduzir a pressão sobre os preços - em queda desde setembro passado - e, esperam as empresas, ajustar o nível dos estoques registrados na cadeia. Mas se o cenário para os fabricantes de celulose é desfavorável, o mesmo não pode ser dito sobre o mercado de papel, que tem na Klabin uma de suas principais representantes.
Ao contrário das concorrentes estrangeiras, a empresa brasileira anunciou que manterá seu volume de produção e poderá aproveitar a redução da oferta para buscar novos mercados no exterior. Além disso, a empresa será beneficiada pelo movimento de alta de preços que a redução da oferta mundial de papel resultará. Empresas do porte de Stora Enso, Ahlstrom e Norske Skog já oficializaram a decisão de reajustar os preços de seus produtos, principalmente a partir dos primeiros meses de 2009.
Esse cenário foi originalmente publicado no AE Empresas e Setores, serviço de informações e análises sobre o setor corporativo da Agência Estado.
(Por André Magnabosco,
AE, 13/11/2008)