A decisão do governo do Equador de negociar bilateralmente um acordo comercial com a União Européia isolou a Bolívia nas tentativas de uma negociação conjunta Comunidade Andina - União Européia. Peru e Colômbia já haviam expressado seu desejo de negociar bilateralmente com o bloco europeu, o que gerou críticas do governo boliviano.
O anúncio da chanceler equatoriana, Maria Isabel Salvador, de que o país tem a obrigação de buscar seus legítimos interesses. No entanto, Salvador esclareceu que o Equador não pensam em nenhum acordo de livre comércio. Essa posição equatoriana foi repudiada pela Coordenação Andina de Organizações Indígenas (CAOI), que afirmou que a EU estimula a desintegração da Comunidade Andina.
A organização chamou a atitude do presidente Rafael Correia de "traição ao povo equatoriano". As organizações indígenas pretendem iniciar uma mobilização contra o Tratado de Livre Comércio com a União Européia: "Não nos surpreende que Álvaro Uribe e Alan García compitam pelo desonroso posto do mais servil aos interesses da globalização neoliberal, seus tratados de livre comércio e sua submissão às multinacionais. Mas no caso de Rafael Correa, quem considerávamos parte da nova tendência política na América Latina, termina de convencer-nos de que se trata apenas de demagogia".
As organizações da CAOI rechaçam a negociação e a assinatura do tratado de livre comércio com a União Européia, "disfarçado de ‘Acordo de Associação’, sob falsas propostas de ‘cooperação’ e ‘ diálogo democrático’". "Os Povos Indígenas não estamos sós nessa luta, nossas organizações se articulam também cada vez mais com os movimentos sociais da América Latina. E os movimentos sociais europeus nos respaldam e coordenamos juntos a resistência e a construção de propostas alternativas à globalização neoliberal", acrescentam.
O vice-ministro de Relações Econômicas e Comércio Exterior da Bolívia, Pablo Guzmán, lamentou a decisão equatoriana e anunciou que a Bolívia vai continuar lutando pela integração andina. As negociações do acordo estão travadas desde junho por causa das observações bolivianas, principalmente no que diz respeito ao tema de propriedade intelectual.
Em pronunciamento, o chanceler boliviano, David Choquehuanca Céspedes, fez um chamado aos Estados da União Européia para que seja mantida a negociação de Bloco a Bloco com reconhecimento de diferentes enfoques econômicos. O chanceler criticou a decisão da chanceler Benita Ferrero, comissária européia de Relações Exteriores e Política Européia de Vizinhança, de promover a negociação bilateral com Colômbia e Peru.
"Bolívia reitera que sua visão é a de um acordo comercial de bloco a bloco, em que seja respeitado o enfoque econômico da Bolívia que é de um tratamento diferenciado que reconheça as profundas assimetrias, em que não se promova a liberalização dos serviços financeiros, em que se excluam os serviços básicos da mercantilização, em que não se patenteie a vida e em que se pense na complementaridade entre países e não na competição em função do lucro e da ganância", afirmou o chanceler.
(Adital, 13/11/2008)