Ao meio-dia de ontem a dona de casa Daniela de Oliveira não sabia como iria preparar o almoço para o marido e os dois filhos. Morando a menos de 500 metros do reservatório do Bairro Esmeralda, ela não tinha água sequer para lavar as mamadeiras dos meninos.
A situação de Daniela não era única em Santa Cruz do Sul. Há pelo menos 30 horas, milhares de famílias estavam sem água em suas residências. A falha no abastecimento havia sido causada por um curto-circuito que explodiu o transformador responsável por movimentar o sistema de bombeamento junto à central de distribuição da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).
Embora a reposição das peças tenha ocorrido ainda na tarde de terça-feira, a normalização do abastecimento demorou por outro motivo. Segundo o gerente do escritório da estatal, Juvêncio Avelino Machado, teriam se formado bolsas de ar nas redes, que impediam a água de chegar até as torneiras. Pelo menos três equipes teriam sido destacadas para resolver esse problema, mas em alguns locais as falhas seguiam. “Estamos trabalhando. O problema do ar nos canos é normal em situações como estas, pois toda a água que estava nos canos foi consumida”, tentava se explicar.
O argumento, no entanto, não era suficiente para acalmar pessoas como Daniela. Com toda a louça acumulada na pia ela só queria saber quando iria poder retomar suas tarefas domésticas e tomar banho. “É um absurdo. Construíram esse reservatório tão perto da minha casa, mas não está adiantando nada. Estou desde terça-feira de manhã sem água”, reclamava.
A queixa também era reforçada pelo pintor Roberto Brendt. Depois de ter trabalhado o dia inteiro ele voltou para casa na tardinha de terça sedento por um banho, mas não conseguiu tirar o suor do corpo. Com as torneiras secas, teve apenas que se contentar em lavar as mãos e ir comprar bombonas de água mineral para a esposa preparar o jantar. “Aqui sempre ficamos sem água no verão, mas agora foi demais.” Ontem, ao ver a explicação da gerência da Corsan, de que o problema teria sido causado por ratos que danificaram a fiação do sistema de energia da central, ele ironizou. “Se o problema são os ratos, fecha a porta e coloca um gato de guarda”, brincou.
Mesmo diante dessas reclamações, o gerente seguia dizendo que a situação estava sob controle. Ele assegurou que a água voltaria em seguida. Entretanto, em alguns pontos o problema continuava. No Centro de Santa Cruz, havia casas e prédios desabastecidos até o meio da tarde.
SAIBA MAIS
A Corsan arrecada em média R$ 1 milhão ao mês em Santa Cruz. Entretanto, nem todo esse dinheiro é aplicado na cidade, pois há municípios onde a situação da estatal é deficitária e há necessidade de cobrir despesas.
(Por Dejair Machado, GazetadoSul, 13/11/2008)