O coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Dionito José de Souza, procurou a Folha para criticar as declarações prestadas pelo senador Mozarildo Cavalcanti (PTB), que, na tribuna do Senado, correlacionou à prisão de dois americanos ocorrida na Raposa Serra do Sol à cobiça estrangeira pela região.
Dionito afirmou que os estrangeiros parceiros do CIR não entram na terra indígena. "Os estrangeiros que nos apóiam apenas garantem recursos para saúde e educação. A visita deles se limita à sede do CIR em Boa Vista. Eles não têm o que fazer lá [na Raposa Serra do Sol]", disse.
As declarações prestadas pelo senador petebista e repercutidas em release enviado à imprensa irritaram o líder indígena. Mozarildo disse que as prisões de Andrew Kopfinger e Benjamim Genard, transitando pela terra indígena sem autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai), demonstram a potencial dificuldade de defesa e soberania do território brasileiro na área demarcada de forma contínua.
"Agora estamos diante de um fato concreto: a Polícia Federal prendeu dois cidadãos norte-americanos dentro da reserva, sem autorização das autoridades brasileiras, que é pré-requisito obrigatório para entrar na reserva. Afirmo mais uma vez que demarcar essa reserva numa região sensível de soberania e potencialmente rica em minérios foi um ato inconseqüente e insano do Governo Federal que o Supremo Tribunal Federal precisa rever", declarou o parlamentar.
"A Polícia Federal só teve acesso aos estrangeiros porque nós denunciamos. Não é porque a terra é indígena que estrangeiro vai transitar por lá quando quiser. Tem que ter autorização do CIR e da Funai, tem que respeitar", rebateu Dionito, afirmando ao mesmo tempo que não estará desmerecendo o trabalho dos policiais.
Segundo ele, os indígenas estão atentos a tudo que se passa na reserva. Ele alegou que já chegaram até a denunciar na PF a presença de traficantes de drogas na região.
Dionito disse que recebeu denúncias de que em um local incerto da terra indígena estaria ocorrendo o trânsito ilegal de estrangeiros. Ele prometeu agir. "Ouvi falar de um local dentro da Raposa Serra do Sol em que os estrangeiros vivem supostamente transitando, sem autorização das autoridades. Ainda não fui lá, mas os indígenas já estão procurando o local. Se encontramos, vamos denunciar à Polícia Federal. A entrada na reserva só é permitida mediante autorização", reforçou o coordenador do CIR.
O casoO engenheiro Andrew Kopfinger, que trabalha numa empresa de exploração de petróleo nos Estados Unidos, e Benjamim Genard, formado em Relações Internacionais, foram detidos pela Polícia Federal, no dia 04, quando transitavam na Raposa Serra do Sol, sem autorização da Funai.
Eles estavam na companhia do índio macuxi José Pereira da Silva, pertencente à Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiur) - contrário à demarcação da reserva de forma contínua - e do guianense naturalizado no Brasil, Alex Santos Almeida. Pereira atuava como guia e Almeida como intérprete do grupo.
Eles foram detidos na maloca do Maracanã, após índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima relatarem a presença deles as autoridades. Os americanos carregavam aparelho celular, máquina fotográfica, kit de sobrevivência, telefone via satélite (global star) e GPS.
Exército vai participar de operação na reserva Raposa Serra do SolSeis meses depois de assistirem à distância os conflitos, que por pouco não terminaram em tragédia na reserva indígena Raposa Serra do Sol, agora, os militares aguardam apenas a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para se integrar às operações de pacificação dos grupos que dominam a região de 1,7 milhão de quilômetros quadrados. As informações são do Jornal do Brasil.
O Exército vai participar, mesmo que não seja convocado, segundo o general Augusto Heleno, Comandante Militar da Amazônia. Ele afirmou que na época em que o Ministério da Justiça queria fazer a retirada dos arrozeiros, o Exército, que tem um Pelotão Especial sediado em Uiramutã, no coração da reserva, nem chegou a ser convocado pelo presidente Lula, embora não concordasse com o plano de retirada dos não-índios. "Não fomos chamados a participar da operação", disse.
Segundo Heleno, os militares consideravam que a Operação Upatakon III - organizada pela PF e que acabou não sendo deflagrada - precisava ter sido discutida com mais profundidade para atrair a presença das Forças Armadas na execução. Autoridades da Polícia Federal e do Ministério da Justiça garantiram que o Exército se recusou a participar. O general afirma, no entanto, que a tropa se manteve neutra no conflito, embora acompanhasse toda a movimentação dentro da área, mas sem se envolver com os grupos ou as causas envolvidas no conflito.
Heleno afirmou que qualquer que seja a decisão do STF, as Forças Armadas acatarão e defenderão porque estará amparada na Constituição. Ele acha que o tempo decorrido entre o período dos conflitos e o julgamento da ação impetrada pelo governador de Roraima, José Anchieta Júnior, contribuiu para serenar os ânimos na região.
(Folha de Boa Vista,
Amazonia.org.br, 12/11/2008)