A solução para os problemas das cidades exige uma estratégia global de ocupação do território, que inclua a área rural. Foi o que disse o economista Ignacy Sachs, professor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais da França e autor de dez livros sobre o Brasil, em palestra nesta terça-feira na 9ª Conferência das Cidades, promovida na Câmara pela Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados. O tema do encontro, que prossegue amanhã, é a "sustentabilidade nas cidades brasileiras".
"É preciso abandonar de vez a idéia antiga, do século 20, de que urbanização e desenvolvimento são sinônimos", alertou Sachs. Ele disse que houve mudança na escala da industrialização, tornando viável a sobrevivência de empresas menores, que geram menos empregos e ficam fora das cidades.
Na avaliação de Sachs, o ordenamento territorial urbano somente terá sucesso se houver um novo ciclo de desenvolvimento rural. "Esse é um elemento-chave para a sustentabilidade", resumiu o professor. Ele acrescentou que é preciso evitar novos êxodos rurais.
A substituição da energia fóssil pela renovável, previu Sachs, deverá abrir novas oportunidades de vida econômica no meio rural, e assim oferecer importante contribuição à sustentabilidade. Segundo o professor, o risco de o biocombustível prejudicar a produção de alimentos e gerar fome é baixo. "Não creio nisso", afirmou.
Nova consciência
A presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano (CDU), deputada Angela Amin (PP-SC), destacou a abrangência do tema da sustentabilidade, que vai da proteção ambiental ao planejamento de cidades socialmente justas. Para ela, é preciso estabelecer uma nova consciência de cidadania urbana, "o que requer equilíbrio em todos os sentidos".
A deputada observou que o Brasil precisa reduzir as "taxas alarmantes" de desmatamento, e deve também melhorar as condições das cidades. Como exemplo, ela disse que apenas 54% das residências urbanas estão ligadas a redes de esgoto, e só 30% de todo o esgoto coletado são tratados antes de serem lançados ao ambiente. "Para os resíduos sólidos, não há nem estimativas consistentes", acrescentou Angela Amin.
Ela defendeu o lema ambiental sobre a necessidade de "pensar globalmente e agir localmente".
Sociedade protagonista
A secretária de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães, disse esperar que a conferência ajude a aperfeiçoar as políticas públicas para tornar as cidades melhores e mais justas. "Não se trata apenas do uso correto de novas tecnologias; precisamos de um processo que permita, à sociedade, ser protagonista da tomada de decisões", explicou.
Segundo Inês Magalhães, o Brasil já vem "avançando bastante" nesse sentido. Ela citou como exemplos o Orçamento Participativo, os planos diretores urbanos e o Conselho Nacional das Cidades.
O representante do Fórum Nacional pela Reforma Urbana, Donizete Oliveira, enfatizou que os trabalhadores precisam ser incluídos nos debates sobre as cidades.
(Por Luiz Claudio Pinheiro, Agência Câmara, 11/11/2008)