Floresta sofre com mudança climática; modelos ajudam a entender como.Efeito pode até causar secas no Sudeste brasileiro no futuro.
Brasil e Reino Unido estão tocando uma parceria com o objetivo de "desembaçar" a visão sobre os impactos locais que o aquecimento global poderá trazer para as diferentes regiões do país, sobretudo para a floresta amazônica. E o quadro pintado por esse novo modelo, desenvolvido conjuntamente, é bastante preocupante: a perda da floresta pode até mesmo produzir secas no Sudeste brasileiro, região com maior densidade populacional no país.
Os estudos e modelagens de computador que são parte do projeto "Mudança climática perigosa no Brasil" ainda estão em curso, realizados em conjunto pelo CPTEC, unidade de tempo e clima do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e pelo Hadley Centre, escritório de meteorologia do Reino Unido.
"Devemos apresentar esses resultados em Copenhagen, na segunda comunicação do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, no fim do ano que vem", afirma Richard Betts, chefe de impactos climáticos do Hadley Centre.
O trabalho se baseia num programa criado pelos britânicos chamado de Precis, sigla inglesa para Fornecimento de Climas Regionais para Estudos de Impacto. É uma forma de dar, por meio de computação, realce a uma dada região do globo durante uma simulação global do clima, produzindo variações mais realistas para escalas menores.
O resultado é que a "resolução" para efeitos climáticos passa a ser de áreas de 3 km x 3 km, permitindo até mesmo previsões para cidades individuais.
O programa já está sendo usado no Reino Unido, onde está guiando decisões estratégicas para políticas ligadas a mitigação de problemas causados pelo clima. Seu uso também está sendo implementado em outros países, como Bagladesh -- o Hadley Centre fornece o programa gratuitamente, contanto que haja treinamento específico para quem for operá-lo.
Parceria global Mas o trabalho com o Brasil é mais profundo que isso. A análise dos dados exige grande esforço e parece estar apontando numa direção: o aquecimento global tende a "savanizar" a Amazônia -- ou seja, substituir floresta por vegetação rasteira.
Mais do que isso, há uma preocupação de que o sumiço da floresta, além de liberar mais carbono na atmosfera, acirrando ainda mais o efeito estufa, também corte fluxos importantes de precipitação que correm pelo delta do rio Amazonas, invadem o interior do país e saem pela bacia do Prata, no sul do continente. Ao que parece, esse processo reduzirá as chuvas não só na região da floresta, mas em todo o percurso, inclusive no Sul e Sudeste brasileiros. Mas esses dados ainda não são finais, e até lá as conclusões podem mudar.
Além disso, britânicos e brasileiros já estão se esforçando para usar o poder computacional do Inpe de forma a produzir novas simulações globais da mudança climática. Entendimentos estão sendo elaborados entre os dois países para efetuar essa parceria, que, segundo Richard Betts deve acontecer em breve.
(Por Salvador Nogueira,
G1, 11/11/2008)