Há quatro anos, uma manifestação coordenada pela Brigada Indígena protesta contra o patrocínio das empresas poluidoras na Feira do Verde. O movimento, chamado “Farsa do Verde”, foi iniciado nesta terça-feira (11), durante a abertura evento, com a presença de 300 manifestantes.
O maior evento ambiental do Espírito Santo, a Feira do Verde é patrocinada por empresas como a Vale, Petrobras, ArcelorMittal (CST e Belgo) e Samarco, que utilizam o espaço para vender uma falsa idéia de desenvolvimento sustentável, o que mostra uma realidade distorcida aos capixabas.
Desde o primeiro ano da manifestação, quando os integrantes da Brigada Indígena ocuparam a feira com faixas em punho, protestando contra a participação da Aracruz Celulose, e reivindicando o reconhecimento das terras indígenas no norte do Estado, o movimento vem ganhando força.
Este ano, a pressão da sociedade, incentivada pelos movimentos de protesto, fez com que a prefeitura de Vitória cedesse parte do espaço para o que foi batizado de “Feira do Lado B”. Surge, assim, uma outra forma de tentar alertar a população sobre a verdadeira postura das poluidoras no Estado.
A intenção da feira alternativa é mostrar o que a Feira do Verde deixa de expor, como as verdadeiras conseqüências dos impactos gerados por essas empresas. Nesse espaço, ficarão locados os estandes de ONG’s ambientalistas, e serão oferecidas palestras e exibições de vídeos.
Nesta edição do evento, a Aracruz Celulose saiu de cena, ou pelo menos, não patrocina mais a feira. A transnacional foi, durante os últimos três anos, o principal alvo dos protestos da Brigada Indígena, devido aos inúmeros danos causados ao meio ambiente e às comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas, que vivem no norte do Estado, ilhadas pelos eucaliptos.
Entre os apontamentos da Brigada durante os anos de protestos, a lembrança da destruição de 50 mil hectares de mata atlântica pela Aracruz Celulose durante sua instalação; o título da Vale de campeã de multas no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e a poluição gerada pelo Pólo de Tubarão, que contamina a casa dos capixabas com pó de minério, gerando inúmeras doenças, entre elas o câncer.
Para os manifestantes, o protesto e o espaço dedicado aos ambientalistas este ano servirão como instrumentos para que as poluidoras deixem de camuflar seus danos e divulguem “projetos ambientais” que só enganam a população e não minimizam a destruição ambiental que geram.
No ano passado, quando a feira teve como tema o “Consumo consciente: uma questão de sobrevivência”, o evento teve o patrocínio da Aracruz Celulose, que consome 248 mil metros cúbicos de água ao dia, o equivalente ao necessário a 2,5 milhões de habitantes, quase toda a população do Espírito Santo.
Já este ano o tema é “Mudanças Climáticas – somos todos responsáveis”. O evento prossegue até o próximo domingo (16). O público estimado pela prefeitura é de 200 mil visitantes.
A Brigada Indígena é um grupo de apoio à causa indígena Tupinikim e Guarani do Estado, formado por universitários e ativistas de diversas áreas e posições políticas, preocupados com o futuro e a saúde do planeta.
(Por Flavia Bernardes,
Século Diário, 12/11/2008)