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amazônia desmatamento da amazônia
2008-11-12
O desmatamento não é o grande vilão do aquecimento global. O alerta é do pesquisador Antônio Manzi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), órgão ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Manzi cita dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) para mostrar que o uso de combustíveis de origem fóssil responde por 82% das emissões dos gases que intensificam o efeito estufa, enquanto o desmatamento é responsável por 18%.

Para o pesquisador – que na semana passada participou do Fórum Latino-Americano Amazônia, Sustentabilidade & Imprensa, promovido pela Revista Imprensa, em Manaus –, há exageros quando se fala sobre a importância da Floresta Amazônica na luta para conter o aquecimento global. Confira os principais trechos da entrevista concedida à Gazeta do Povo:

Gazeta do Povo. Em qualquer floresta há um processo de liberação de gases que contribuem para o efeito estufa. Ao mesmo tempo, a floresta elimina uma parcela do gás carbônico presente na atmosfera, por meio da fotossíntese, e o desmatamento pode ajudar a elevar ainda mais a temperatura no planeta. Dentro deste contexto, qual é a contribuição da Amazônia para o aquecimento global?

Antônio Manzi. Esse porcentual varia muito de ano para ano, mas a gente pode colocar a contribuição da floresta em torno de 3% das emissões anuais globais de gás carbônico. O mundo todo tem que fazer um esforço para reduzir as emissões. Diminuir de 3% para 1% ou zero é importante, mas a Amazônia (considerando tanto a emissão de gases como o desmatamento) não é uma vilã do aquecimento global. Estou falando só do ponto de vista do aquecimento global, mas, é claro, há muitos outros motivos para não desmatar.

Qual é a importância da Amazônia para o clima do planeta?

Antônio Manzi.A importância está no seu estoque de carbono. O aquecimento global é a intensificação do efeito estufa, que se dá porque está aumentando a concentração dos gases na atmosfera, e o gás que mais aumenta é o carbônico. Na Amazônia temos um grande estoque de carbono (que não atinge a atmosfera) e é por causa disso que a floresta interessa nessa questão das mudanças climáticas globais. Agora, a Amazônia é menos de 1,5% da superfície da Terra. Então, embora tenha uma concentração de liberação de calor latente, essa importância é pequena, comparada, por exemplo, com os oceanos. Quem determina realmente o clima são os oceanos.

Muitos dizem que a Amazônia é um “pulmão do mundo”. Pode-se dizer isso?

Antônio Manzi. Seria o “pulmão” porque a floresta retira o gás carbônico da atmosfera, por meio da fotossíntese, e produz também oxigênio. Acontece que um ecossistema como esse também tem muita mortalidade. Se (a floresta) estivesse estabilizada, tudo o que ela produz também seria consumido, e o valor seria zero. Então não seria o pulmão do mundo. E hoje existe uma porção externa, que aumenta a temperatura, e existe outra porção que aumenta a concentração de gás carbônico na atmosfera. O gás carbônico é o principal alimento das plantas – as plantas crescem porque retiram o gás carbônico da atmosfera. A concentração de gás carbônico na atmosfera é de menos de 0,04%, e a concentração de oxigênio é de quase 21%. Mesmo que eu transformasse todo o gás carbônico em oxigênio, essa concentração não mudaria nada. A Amazônia não pode ser considerada o pulmão do mundo, mas temos observado que a floresta retira um pouco do excesso desse gás carbônico.

É possível medir quanto é retirado?

Antônio Manzi. A conclusão é de que nas últimas três décadas, e provavelmente nas próximas três, a quantidade varia entre 300 e 600 milhões de toneladas de carbono por ano, e esse valor é bem superior às emissões brasileiras causadas pelo desflorestamento. Então, manter a floresta em pé não só conserva o estoque de carbono que tem nessa biomassa. Mas isso varia. Onde o solo está mais pobre esse aumento de biomassa é pequeno, chegando a 200 quilos por ano. Em solos mais férteis pode chegar a quase 1,5 tonelada de carbono por ano.

O que mais contribui com o aquecimento global, o desmatamento ou as emissões de gases?

Antônio Manzi. Combustíveis de origem fóssil, especialmente carvão mineral e petróleo, tiveram uma faixa média anual, entre 2002 e 2005, de 7,2 bilhões de toneladas de carbono por ano. Isso equivale a quase 82% das emissões anuais totais. E as emissões por desflorestamentos respondem por 1,6 bilhão de toneladas por ano. Somando, corresponde a aproximadamente 18%. São números do último relatório do IPCC, do ano passado.

O senhor acha que há exageros em relação à importância da floresta nesse contexto?

Antônio Manzi. Eu acho que tem exageros, até mesmo nessa questão de pulmão do mundo. Não dá para ser o pulmão do mundo por uma questão de escala. A quantidade de gás carbônico na atmosfera é ínfima comparada com a concentração de oxigênio. No passado foi muito importante, a flora foi retirando gás carbônico da atmosfera e muito desse carbono hoje está estocado. A Floresta Amazônica hoje está retirando um pouco de excesso. E não é tão pouco, 300 a 600 milhões de toneladas por ano, em 9 bilhões de toneladas, não é algo desprezível.

Os dados colocam o Brasil como quarto colocado na emissão de gases do efeito estufa. Qual a importância disso em termos globais?

Antônio Manzi. Os Estados Unidos respondem por 22%, 23% ou 25%, a China também. Só China e Estados Unidos chegam a quase metade das emissões. Somos o quarto, mas com quê? Com 4% do total. Não é insignificante, mas historicamente a participação foi menor nas últimas décadas. Não é um dado relaxante, mas não somos os vilões.

O senhor falou no risco de uma “savanização” da floresta. Como se daria esse processo?

Antônio Manzi. Uma mudança de clima diminuiria as chuvas em certa quantidade. A floresta tem grandes árvores, e essas grandes árvores precisam de muita água. Reduzindo as chuvas, essas grandes árvores começam a morrer e a dar lugar a árvores mais resistentes à seca. Na verdade não viraria uma savana ou um cerrado, poderia até surgir um outro tipo de vegetação, menos exuberante. O El Niño, esse aquecimento que ocorre das águas do Pacífico tropical, quase sempre provoca diminuição de chuvas, principalmente no Norte e Nordeste brasileiro e em boa parte da Amazônia. Nesse cenário de aumento de concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, alguns modelos climáticos projetam um El Niño mais intenso. Projetam que esse El Niño pode ficar quase permanente por um período de tempo. Se isso vier a acontecer, vai ocorrer exatamente isso: uma boa parte da Amazônia vai ficar mais seca. Esse El Niño permanente seria uma conseqüência do aquecimento global, está tudo interligado.

(Gazeta do Povo, 12/11/2008)

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