O Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Barcelona, na Serra, vai finalmente sair do papel. Será construído na sede da Área de Proteção Ambiental da Lagoa Jacuném, em parceria com o Projeto Corredores Ecológicos. A capacidade mínima inicial é receber 800 animais silvestres por ano, para recuperação. O projeto existe desde 2006.
Desde então, a construção do Cetas é aguardada por ambientalistas, mas só agora os pedidos de Licenças Prévias de Instalação e Operação foram requeridos pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) à Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Serra (Semma).
O Cetas seria construído no Parque Natural Municipal do Vale do Mulembá, mas por um problema jurídico, todo o processo teve que ser reiniciado e uma nova proposta foi feita pelo Ibama para a construção do centro em Jacuném.
Esse será o primeiro Cetas da Grande Vitória e terá quase 10 mil m². O projeto faz parte do plano de implantar uma sede administrativa para a Unidade de Conservação (UC) de Jacuném, criada em 1998. A UC está inserida na região da Bacia Hidrográfica do Rio Jacaraípe, que conta com importantes remanescentes da fauna e da flora da mata atlântica. A área é considerada ideal para que os animais silvestres capturados, apreendidos ou feridos possam ser encaminhados ao Cetas para se recuperar.
O centro deverá garantir o tratamento de animais não só da região da Serra, mas de toda a região metropolitana e interior do Estado. Serão construídas salas de triagem e de quarentena, enfermaria, área de viveiros e estrutura de apoio envolvendo dois técnicos em tempo integral, além de quatro tratadores e um funcionário para a limpeza e manutenção.
Ambientalistas cobram a implantação dos centros, pois é cada vez maior o número de pessoas que fazem do comércio ilegal de pássaros um meio de vida. Os trabalhos desenvolvidos nos centros permitem que os animais apreendidos reaprendam a caçar, voar e se alimentar, entre outras necessidades, para que possam ser reintroduzidos na natureza com sucesso.
Além do Cetas em Jacuném, outros dois já deveriam ter sido construídos no Espírito Santo. Um em Conceição da Barra, na Floresta Nacional do Rio Preto, norte do Estado, e outro em Cachoeiro de Itapemirim, região sul.
Hoje, os animais silvestres apreendidos pela fiscalização têm de ser remetidos para o Centro de Reintrodução de Animais Selvagens (Cereias), projeto mantido principalmente pela poluidora Aracruz Celulose. A decisão do Ibama de construir três Cetas no Estado, entre os quais o da Grande Vitória, foi tomada depois da morte de 300 dos 2,5 mil animais enviados ao Cereias, há dois anos. O centro foi fundado pela empresa em parceria com o Ibama, em 1993, e ocupa uma área de 11,5 hectares, em Barra do Riacho, município de Aracruz.
ES é rota do tráfico de animais e plantasO Espírito Santo é uma das principais rotas do tráfico internacional de animais no País. A Rede de Combate ao Trafico de Animais Silvestres (Renctas) aponta a BR-101 como a principal rota do trafico no Estado. Pelo menos 7.000 silvestres são traficados no Espírito Santo por ano, mas o número é considerado subestimado.
Os animais capturados no Norte, Nordeste, inclusive no sul da Bahia, e no próprio Espírito Santo, são transportados nas rodovias capixabas e levados para o Rio de Janeiro e São Paulo. Desses estados são enviados ao exterior, principalmente por via aérea.
Animais como pássaros, papagaios, sagüis e cobras estão entre os que mais chamam a atenção dos turistas. Somente no Brasil, 38 milhões de animais silvestres são comercializados ilegalmente por ano. Trata-se de uma atividade muito rentável, embora extremamente arriscada: US$ 20 milhões no Brasil. A atividade rende tanto que está absorvendo parte dos traficantes de drogas. Muitos vendem drogas e animais.
O Espírito Santo é também rota internacional do tráfico de plantas da mata atlântica. Comprar ou vender animais e plantas silvestres é crime previsto na Lei 9605/98, de Crimes ambientais. No artigo 29, a lei define que quem "matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória" é sujeito à pena de "detenção de seis meses a um ano, e multa".
(Por Flavia Bernardes,
Século Diário, 11/11/2008)