A atual política econômica adotada no Brasil fez com que o país retornasse ao modelo agroexportador do período colonial. Ao avaliar a situação no campo em 2008, o economista e integrante da direção nacional do Movimento Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, constata que em todos os estados há um processo da concentração da propriedade da terra.
Embora liderada hoje pela fase moderna do capital financeiro, a agroexportação brasileira ainda conta com matérias-primas antigas, como a cana-de-açúcar. A novidade está que as culturas tidas como commodities adentram locais diferentes. É o caso da cana que, motivada pelo governo para sustentar o etanol, se expande e devasta a Floresta Amazônica e o Cerrado.
"Uma concentração que vem desse capital financeiro, pelas empresas para botar soja, cana, eucalipto e pecuária. Hoje o Brasil se transformou, de novo, em uma economia agroexportadora, baseada basicamente nesses quatro produtos", analisa.
Ao mesmo tempo em que o governo optou pelo desenvolvimento do campo através do agronegócio e das transnacionais, Stedile reclama que o presidente Lula tornou a reforma agrária em um mero programa assistencial. O processo encabeçado pelo governo, além de lento, não está servindo para democratizar o acesso à terra. Dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) apontam que o governo Lula assentou apenas 18.630 famílias enquanto a meta seria de 80 mil em todo o país.
"Esses quatro produtos agrícolas dominam o cenário agrícola do Brasil e, diante disso, há um bloqueio político da reforma agrária. Estamos com os nossos acampamentos 'mofando' no interior porque não há um processo acelerado de desapropriação. Ao contrário, repito, as estatísticas revelam que há um processo de concentração da propriedade da terra, portanto há uma contra-reforma agrária", diz.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 10/11/2008)
* Com informações da Agência Pulsar