Após uma autoridade em infra-estrutura hídrica do Estado de Queensland alertar sobre os potenciais perigos de se ingerir água proveniente de esgoto reciclado, chegou a vez da agência federal responsável por estabelecer os padrões nacionais de saúde para o consumo de água se pronunciar.
A entidade advertiu o governo de Queensland que o Estado só deve prosseguir com seu plano de reciclagem hídrica se a medida for "absolutamente necessária".
O presidente nacional do comitê consultivo para a qualidade da água Don Bursill emitiu o aviso nesta última segunda-feira (10/11) assim que o Conselho Municipal da Gold Coast lançou uma investigação sobre o grau de insegurança envolvendo o consumo de água reciclada.
Bursill diz simpatizar com a tecnologia, mas somente se ela for absolutamente necessária. "Eu penso que o uso de água reciclada para fins potáveis deve ser uma escolha de última instância. Há oportunidades para que os problemas ocorram e se podemos evitar, penso que assim deveria ser. A manutenção da saúde pública deve ser o interesse preliminar", analisa.
O especialista sustenta que o governo do Estado se preparou bem para o projeto. Entretanto, assegura que o motivo de principal preocupação da agência são os potenciais riscos causados pela falha humana ao lidar com essa tecnologia.
"Vale a pena lembrar o povo que embora a tecnologia possa conseguir reciclar esgoto para fins potáveis, aproximadamente 80 por cento das falhas que ocorreram em sistemas de fontes convencionais de água em outros países foram devido às falhas humanas em lidar com as inovações tecnológicas".
Garantindo as fontes futuras
O projeto prevê o bombeamento diário para o início do ano que vem de sessenta milhões de litros de água proveniente de esgoto reciclado à represa de Wivenhoe, principal nascente de água de Brisbane, capital do Estado. O governo, no entanto, prometeu em 2006 que o tratamento seria usado para o consumo dos 2.6 milhões de residentes do sudeste somente em caso de "último recurso".
Desde que o empreendimento foi lançado, a represa de Wivenhoe e outros armazenamentos da região foram reabastecidos após bons períodos de precipitação, mas o governo insiste em levar adiante a idéia de que a água reciclada deve ser introduzida agora para garantir as fontes futuras.
A primeira ministra do Estado Anna Bligh deu boas vindas ao debate, mas ressalta que a situação deve ser baseada em fatos. "A água é um dos maiores desafios globais do século XXI" disse ela, "e o Estado está no caminho certo ao fornecer soluções inovadoras", analisa. "Isto é algo que nós podemos nos orgulhar e não temer".
A primeira ministra assegura ainda que o único motivo que levaria o governo a suspender o projeto seria o transbordamento das represas na região.
(Por Tatiana Feldens, AmbienteJá, 11/11/2008)