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conservação da biodiversidade gestão do conhecimento
2008-11-11

A incorporação de informações sobre biologia evolutiva nos estudos sobre biodiversidade é um caminho importante para que o avanço do conhecimento nessa área se traduza em políticas públicas de conservação. Pesquisadores de dez países começaram a debater o tema nesta segunda-feira (10/11), na sede da Fapesp, em São Paulo, no simpósio “Biologia evolutiva e conservação da biodiversidade: aspectos científicos e sociais”.

O evento, que se encerrará na terça-feira (11/11), foi organizado pelos programas Biota-Fapesp e bioGENESIS, da organização internacional Diversitas, sediada no Museu de História Natural, em Paris, na França.

De acordo com a professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) Lúcia Garcez Lohmann, integrante brasileira do comitê científico do bioGENESIS e uma das coordenadoras científicas do simpósio, o principal objetivo do evento é discutir formas inovadoras para aplicar, na solução de questões ambientais, os resultados das pesquisas em biologia evolutiva e biodiversidade.

“Uma das áreas de aplicação em discussão são as novas estratégias e ferramentas para documentar a biodiversidade. A maneira que o bioGENESIS encontrou para isso é a incorporação de filogenias. Geralmente, os inventários são feitos ao acaso, mas a organização das informações e a captura de biodiversidade podem ser muito mais eficientes se utilizarmos as filogenias para isso”, disse à Agência Fapesp.

O princípio, segundo Lúcia, baseia-se no desenvolvimento de ferramentas que permitam navegar pela árvore da vida, utilizando a filogenia como base para organizar as informações do conhecimento. “Todo o programa se fundamenta na idéia de incorporar informações evolutivas no estudo da biodiversidade de forma geral. Com isso, é possível utilizar o grande poder preditivo da filogenia e tornar esse conhecimento mais aplicável”, explicou.

Outra área de aplicação discutida no evento é o uso de informações de biologia evolutiva para o bem-estar da sociedade, isto é, a utilização da filogenia como base para desenvolver novos medicamentos e produtos.

“As empresas buscam novos medicamentos ao acaso, mas seria mais eficiente determinar quais são os nós da filogenia que incluem várias plantas aparentadas com potencial farmacológico e investigar aquele ponto específico da filogenia. Seria uma prospecção dirigida, feita com base científica”, apontou.

Segundo a professora, os cientistas buscam meios para utilizar a filogenia como base para encontrar melhores locais para a conservação da biodiversidade.

“Em vez de encontrar apenas as áreas que têm número maior de espécies, queremos escolher aquelas que tenham uma maior diversidade genética, com representantes de diferentes linhagens da árvore evolutiva. Isso é importante, porque se escolhermos apenas as áreas com grande número de espécies, é possível que estejamos pegando apenas um ramo da árvore filogenética”, disse.

O simpósio discute também uma terceira área de aplicação, segundo Lúcia, ligada às causas e conseqüências da diversificação biológica. De acordo com ela, vários biólogos evolutivos tentam entender por que surgiu toda a diversidade existente.

“Entendendo o que leva à diversificação, poderemos preservar não apenas as linhagens evolutivas, mas os próprios processos evolutivos. Alguns dos palestrantes estão apresentando trabalhos que avaliam se certas características da biologia evolutiva estão correlacionadas com a alta diversificação. Caso isso seja confirmado, será possível preservar áreas nas quais as plantas tenham essas características, garantindo uma alta diversificação no futuro. Isso é uma forma de utilizar o valor preditivo da filogenia”, disse.

Segundo Lúcia, a tendência é que os cientistas trabalhem com filogenias cada vez maiores e mais relevantes para as políticas públicas. “Em vez de filogenias de grupos restritos, o ideal é ter filogenias bem amplas – que incluam grande diversidade morfológica, com grande número de organismos – que possam realmente utilizar essas ferramentas para melhores decisões”, disse.

Da fronteira para a aplicação

Para o outro coordenador científico do simpósio, Carlos Alfredo Joly, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a ligação do Biota-Fapesp com o bioGENESIS faz parte do esforço de internacionalização do programa que, desde 1999, faz a caracterização da biodiversidade no Estado de São Paulo e propõe medidas para sua conservação.

“Dentro do esforço que temos feito nos últimos três anos para colocar o Biota-FAPESP como um ator no cenário internacional, em termos de conservação e uso sustentável de biodiversidade, um dos caminhos óbvios era a aproximação com a Diversitas, que é o principal órgão internacional responsável por questões relacionadas à biodiversidade”, disse.

Segundo Joly, a idéia do simpósio surgiu em 2007, quando a coordenação do Biota-Fapesp convidou o então presidente da Diversitas, Michel Loreau, da Universidade McGill, no Canadá, para apresentar uma palestra em São Paulo e discutir a integração do Brasil ao Mecanismo Internacional de Expertise Científica em Biodiversidade (Imoseb).

“Em contrapartida, Loreau nos convidou para participar da reunião do programa bioGENESIS, que estava sendo criado. Fiz uma apresentação do Biota-Fapesp e propusemos a organização desse simpósio no Brasil. Hoje, o Biota-Fapesp é o único programa associado ao bioGENESIS, com um reconhecimento muito grande dentro do programa internacional”, disse Joly, que é um dos criadores e ex-coordenador do programa Biota-Fapesp.

Segundo ele, o que une os dois programas é a vocação para traduzir a pesquisa científica em aperfeiçoamento de políticas de conservação. “Tanto o bioGENESIS como o Biota procuram utilizar o que está na fronteira do conhecimento para aplicar no desenvolvimento de políticas públicas de conservação e uso sustentável da biodiversidade”, destacou.

(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 11/11/2008)


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