Investigadores da ONU encontraram traços de urânio numa instalação síria bombardeada no ano passado por Israel, disseram diplomatas na segunda-feira. As minúsculas partículas estariam em amostras recolhidas em junho, e, de acordo com os diplomatas, não bastam para formular acusações de que a Síria estaria desenvolvendo armas nucleares -- embora exijam maiores esclarecimentos.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU) não se manifestou sobre a notícia, que surge horas depois de funcionários da agência confirmarem que seu diretor, Mohamed El Baradei, prepara um inédito relatório formal e por escrito sobre a Síria.
O programa nuclear sírio também foi incluído na pauta da reunião dos dias 27 e 28 da direção da AIEA, composta por 35 países. Washington diz que a instalação bombardeada por Israel era um reator nuclear secreto que estava quase pronto para uso, o que violaria o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. A Síria nega.
Em setembro, El Baradei disse que amostras recolhidas da instalação bombardeada não continham traços radiativos. Diplomatas ligados à AIEA dizem que a descoberta do urânio se deu em um conjunto mais amplo de amostras.
"Era um componente de fabricação humana, não (minério) natural. Não há sinal de que já houvesse combustível nuclear ou atividade (de enriquecimento) ali", disse um dos diplomatas à Reuters, admitindo que as partículas podem ter sido levadas em roupas de funcionários ou equipamentos.
Um outro diplomata afirmou que a Síria tem se recusado a permitir inspeções da AIEA em três instalações militares, o que "é suficientemente significativo para colocar a Síria na pauta (da reunião de novembro) logo depois da Coréia do Norte e o Irã."
"Para nós, ficou claro que as amostras provocam novas perguntas", afirmou um terceiro diplomata.
A única instalação nuclear divulgada pela Síria é um reator de pesquisas. A AIEA realiza investigações desde maio, quando os EUA entregaram informações sobre o local bombardeado meses antes por Israel -- e que já havia sido limpo por Damasco.
El Baradei criticou Washington por não ter fornecido informações antes do bombardeio, pois será difícil realizar uma investigação agora que "o cadáver já foi embora".
A Síria diz que o local bombardeado era uma velha instalação militar. Damasco prometeu cooperar na investigação, mas disse que não abriria instalações militares, pois isso poderia ameaçar sua segurança.
(Por MARK HEINRICH, REUTERS, 10/11/2008)