Por R 31 milhões órgão compra parte da Southall símbolo de resistência dos produtores
A venda de parte da Fazenda Southal ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) causou desconforto entre produtores rurais de São Gabriel.
Considerada símbolo da resistência dos ruralistas contra invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o acordo de venda fechado entre os proprietários e o órgão federal revoltou os produtores da região. O negócio, que envolveu os 4.953 hectares da Estância do Céu, deverá totalizar R$ 31,68 milhões.
– Ele tinha um compromisso moral conosco. Achávamos que jamais venderia para o Incra aquelas terras, porque sempre estivemos ao lado dele – afirmou o presidente do Sindicato Rural de São Gabriel e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Tarso Teixeira.
Em um artigo enviado à imprensa, Teixeira considera a venda um “péssimo negócio”. A principal preocupação, segundo ele, é com a riqueza da terra, já que os produtores prevêem perda de parte da produção: na área há plantações de soja e arroz, além de 10 mil bovinos e 6 mil ovinos. Outro receio são os possíveis atos de vandalismo dos assentados.
– Não vamos entrar no mérito do negócio. Ele (Alfredo Southall, proprietário da fazenda) sabe o que faz. Mas a decisão vai trazer impacto econômico muito grande e negativo para a cidade. Essa é uma das mais ricas regiões de São Gabriel – protestou.
O advogado de Southall, César Carvalho, informou que a venda ao Incra foi a última alternativa encontrada para se dar um destino àquela área. Conforme o andamento das negociações, que começaram em 2005, as instituições privadas interessadas desistiam da decisão por medo dos problemas históricos que acompanham a área, como as invasões do MST. Southall evitou dar detalhes sobre o negócio.
– Hoje nós estamos numa nova era, num novo momento. Vamos ter que aprender a conviver com isso – disse o produtor à Agência Estado.
Esta é a sexta aquisição de terras que o Incra faz no Estado somente este ano. Na estância, a previsão é que 330 famílias sejam assentadas até o fim do ano, mesmo que a estruturação completa do local – abertura de estradas, divisão dos lotes e construção das casas – seja finalizada em até um ano.
– Essa revolta dos produtores rurais é arrogante, preconceituosa e, acima de tudo, mal-informada. É uma manifestação contra o direito das pessoas trabalharem e terem acesso à terra. – diz o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.
Sem-terra comemoram confirmação de negócio
O Incra ainda negocia outras áreas pelo Estado. A expectativa é desapropriar 30 mil hectares até o início de 2009 – o suficiente para mais de mil sem-terra.
– Embora a gente ainda queira que toda a área seja desapropriada, estamos felizes. Essa conquista alimenta a esperança dos sem-terra gaúchos – festejou a coordenadora estadual do MST Ivonete Tonin.