O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, deveria fazer da luta contra a fome uma prioridade máxima no momento em que o desaquecimento da economia global ameaça provocar uma nova crise de falta de alimentos, afirmou na quinta-feira o chefe da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação).
As safras recorde deste ano e uma queda recente no preço dos alimentos não deveriam criar um "falso sentimento de segurança" porque esses fatores apresentam-se sobre o pano de fundo de uma economia global em desaceleração, disse a FAO em um relatório.
Os EUA deveriam convocar uma Conferência Mundial sobre a Segurança Alimentar na primeira metade de 2009 "para alcançar um amplo consenso sobre a eliminação definitiva da fome no mundo", afirmou o diretor-geral da agência, Jacques Diouf, em uma mensagem de congratulação a Obama por sua vitória nas urnas.
Uma cúpula do tipo apelaria por investimentos de 30 bilhões de dólares ao ano para melhorar a infra-estrutura das zonas rurais e a produtividade agrícola no mundo em desenvolvimento, com o objetivo de dobrar a produção e garantir a segurança alimentar de toda a população mundial, que deve chegar a 9 bilhões de pessoas em 2050, disse Diouf.
"A cúpula também deveria criar a base para um novo sistema de comércio agrícola oferecendo aos agricultores tanto dos países desenvolvidos quanto dos países em desenvolvimento uma chance de viver de forma digna", afirmou.
Safras recordes
A safra mundial de cereais registrou recordes de alta neste ano, atingindo 2,242 bilhões de t, entre as quais 677 milhões de t de trigo. Esse volume será suficiente para atingir as metas de consumo de curto prazo e para ajudar a reabastecer as reservas mundiais, disse a FAO.
No entanto, a crise financeira também atingiria o setor agrícola e poderia detonar uma nova disparada dos preços em 2009, "provocando crises de falta de comida ainda mais graves do que as experimentadas recentemente", acrescentou o documento da FAO, uma entidade com sede em Roma.
"Se a atual volatilidade dos preços e as condições de liquidez persistirem em 2008/09, o plantio e a produção poderiam ser afetados de tal forma que uma nova disparada dos preços ocorreria em 2009/10", afirmou Concepcion Calpe, uma das autoras do relatório.
"A crise financeira dos últimos meses acentuou a tendência de queda dos preços, contribuiu para fechar os mercados de crédito e criou uma incerteza ainda maior sobre o que ocorrerá no próximo ano", disse Calpe, advertindo que o conjunto desses fatores pode levar a uma grave crise de falta de alimentos.
A diminuição do poder de compra arrefeceria a demanda e detonaria uma queda no consumo de comida, especialmente nos países pobres, aumentando o número de pessoas famintas no mundo (que hoje somam 923 milhões segundo estimativas mais recentes), afirmou a FAO.
O preço menor dos alimentos deve desestimular os investimentos tão necessários no setor agrícola, o que, somado a um ambiente mais desfavorável de concessão de crédito, atingiria a produção agrícola no longo prazo, em especial nos países em desenvolvimento.
(Reuters, Terra, 07/11/2008)