A tão propalada solução para a crise de água na Austrália pode estar com os dias contados. Uma autoridade em infra-estrutura hídrica de Queensland está causando polêmica no estado após alertar sobre os potenciais perigos de se ingerir água proveniente de esgoto reciclado.
De acordo com o professor emérito da Universidade Nacional do país Patrick Troy não há como prevenir a ausência de organismos nocivos à saúde na água a ser consumida a partir de março do ano que vem -
como está sendo projetado pelo governo do Estado. A segurança da água não pode ser garantida, alerta ele, pois não foi provado em nenhum estudo epidemiológico a longo prazo.
"Não será possível remover todas as moléculas de resíduos biologicamente ativas do sistema", esclarece o professor. "A probabilidade é que algo em torno de 8% destas impurezas passe despercebidas".
A preocupação do especialista aumenta quando se refere aos cidadãos predispostos a alergias. Estes, segundo ele, correm sérios risco de infecções.
"O que está acontecendo aqui é que as autoridades estão jogando roleta russa com a saúde da população", diz Troy, acrescentando ser um absurdo não ter sido dado a uma região com cerca de 2.6 milhões de residentes voto em um referendo.
"É um escândalo ver que o chefe do Estado (Peter Beattie) prometeu ao povo do sudeste de Queensland uma palavra em um plebiscito, mas vemos que ele não suportou a idéia e está longe de cumprir essa promessa".
O anúncio de que o Estado irá beber água reciclada já a partir de março de 2009 foi feito recentemente pela primeira-ministra do Estado, Anna Bligh. O declínio do nível de água nos reservatórios, somados a falta de chuvas, aumento da demanda por água e o medo das mudanças climáticas forçaram o governo a buscar novas alternativas para obtenção de água, mas, segundo o professor emérito, o projeto apresentado como solução é desnecessário e representa um desperdício de dinheiro público.
"Isto tudo está sendo conduzido por uma obsessão tecnológica que os grandes projetos de engenharia oferecem como únicas soluções para a escassez de água. Se todos os moradores de Brisbane (capital do Estado) tivessem tanques captando água da chuva haveria abundância de água", sugere.
O líder da oposição no Estado, Lawrence Springborg, sinalizou que o Partido Nacional Liberal pode rejeitar o projeto. "Eu sempre deixei claro que o uso de água reciclada deveria ser restrito ao setor industrial".
A primeira ministra de Queensland, Anna Bligh, afirma que seu governo não suportaria regressar na sustentação do projeto. A reciclagem, segundo ela, representa uma parcela necessária da solução encontrada para prover e garantir o consumo hídrico a uma população crescente.
"Queensland é uma força econômica que continua a expandir (...) Para prosseguir com esse crescimento populacional nós precisaremos usar plantas de dessalinização, nós precisaremos a água reciclada e nós precisaremos construir mais represas", sustenta.
(Por Tatiana Feldens, AmbienteJá, com informações do The Australian, 05/11/2008)