A dor de cabeça da artesã Zélia Martins Kaufmann ao final da primeira aula, em outubro de 2007, com as 16 alunas de Pantano Grande participantes do projeto Costurando um novo futuro, um ano depois deu lugar ao entusiasmo em seguir sem interrupção com o trabalho. Instrutora do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/RS) e acostumada a ensinar diferentes técnicas por diversas cidades do Estado, Zélia lembra que esta se mostrou a experiência mais difícil da sua vida profissional. Mas hoje não se arrepende e vê gratificado o sacrifício com o retorno proporcionado pelas mães que integraram as quatro etapas do trabalho.
As participantes são pessoas de famílias que foram alvo de medidas judiciais e a seleção ocorreu com o auxílio do Fórum da Comarca de Rio Pardo. O projeto é voltado a pais, mães e jovens, viabilizando o aumento da auto-estima, crescimento pessoal e enfrentamento de situações de vulnerabilidade, dando oportunidades para que a população carente amplie a renda familiar, com uma ocupação durante a semana. A promotora Christine Mendes Ribeiro Grehs explica que a idéia dos cursos surgiu com a parceria da assistente social do Judiciário, Rosaura Garcia Corrêa, diante da decisão do Ministério Público de apresentar à comunidade as carências verificadas na área da infância e da juventude.
Mesmo após um ano e a assimilação de diversas técnicas, sempre com a utilização de material reciclável, as alunas não esquecem dos primeiros trabalhos. As mães aprenderam no último trimestre de 2007 noções básicas de pintura e de reaproveitamento de garrafas pet, com a transformação em outros materiais, como sacolas, enfeites de Natal, flores ornamentais e brinquedos. Zélia explica que a referência para as participantes é a confecção da maior parte da decoração na cidade, com destaque para o boneco de neve e o pinheiro na frente do prédio do Centro Administrativo, nas margens da BR–290. O local virou ponto de parada para as fotos dos turistas.
A artesã conta que as alunas perguntam quando irão confeccionar os enfeites novamente. Destaca a mudança na auto-estima do grupo. “A valorização delas mudou com o trabalho”, ressalta. Explica que uma pessoa da comunidade, ao ver o trabalho de uma das participantes, disse que não acreditava que foi de sua autoria.
Resistência inicial
A instrutora explica que no primeiro momento as mães mostram resistência com novas técnicas e questionam se serão capazes de executá-las. Como exemplo cita o trabalho com papel jornal, que após a barreira inicial passou a entusiasmar as participantes. A artesã considera fundamental a participação da psicóloga Fabiane Ferreira de Oliveira, que presta serviços ao município como orientadora dos projetos sociais.
A primeira etapa envolveu trabalhos com retalhos de tecido; a segunda com papel, papelão e jornal; a terceira com garrafas pet e a quarta, iniciada em outubro, pintura em tecido. Zélia explica que a oficina começou no ano passado com as garrafas pet para a confecção da decoração de Natal. Por isso, este ano nesta fase houve maior ênfase à montagem de bolsas com este material.
A atividade se desenvolve com a parceria do Ministério Público, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica), secretarias municipais da Assistência Social, da Indústria, Comércio, Mineração e Turismo (Sicomtur) e de Obras. O Comdica financia o pagamento da monitora, por meio do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente (Funcriança). A Secretaria da Assistência Social dá às alunas auxílio em dinheiro de R$ 1,25 por hora de curso.
(Por Otto Tesche, Gazeta do Sul, 06/11/2208)