O Brasil está caminhando em uma direção muito definida, mas o grande desafio é reduzir os índices de poluição do ar, melhorando o sistema de transporte nas grandes metrópoles, compatíveis com uma qualidade do ar muito boa, afirmou o médico e coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Carlos Dora, um dos participantes do Seminário Internacional Políticas Públicas e Padrões de Qualidade do Ar na Macrometrópole Paulista, hoje (5), em São Paulo.
Segundo ele, um ótimo exemplo a ser seguido é a cidade de Bogotá, na Colômbia, onde foram feitas intervenções urbanas e implantado um transporte de superfície eficaz, que usa ônibus de alta capacidade circulando em corredores exclusivos. Além disso, foram feitas pistas para as bicicletas e espaços melhores para os pedestres. “Isso oportuniza que as pessoas ocupem o espaço urbano e que vivam com qualidade de vida melhor. Não só melhora a saúde no sentido de diminuir a poluição do ar, como diminui o ruído e os acidentes de trânsito, já que o transporte público causa muito menos danos do que o individual”.
Dora ressaltou que o Brasil tem condições de implantar projetos semelhantes ao da Colômbia e que isso só depende vontade política e visão e não somente de recursos financeiros, porque o investimento que se faz em um projeto dessa envergadura é muito menor do que os gastos da saúde pública para os tratamentos das doenças causadas pela poluição. “O que falta aqui é um pouco de pesquisa e documentação, examinar os cenários sobre o que fazer em São Paulo como alternativa de transporte, que seja limpo, eficiente, chegue na hora para motivar a população a utilizá-lo”.
O médico explicou que o ar considerado limpo pela OMS é aquele que chega a ter 20 microgramas (mcg) de poeira dispersa no ar por metro cúbico. A Região Metropolitana de São Paulo tem hoje 50 mcg por metro cúbico. “ A discussão é justamente se se deve diminuir e para quando e, por outro lado, quais são as estratégias a adotar para chegar lá”. Segundo ele, EUA e China registram índices mais altos de mcg por metro cúbico, enquanto países como Suíça e outros países do Norte da Europa já chegaram na meta estipulada pela OMS.
Dora reforçou ainda que mais importante ainda do que estabelecer a meta é saber como alcançar essa meta, abrangendo não só o transporte, mas outros setores poluentes como a construção civil e a indústria. “Tem que olhar o espaço urbano e identificar e elencar as fontes de poluição para ver como vai trabalhar com elas. Isso é um trabalhado que a Cetesb faz e tem condições e é muito bem equipada para isso, comparada às agências internacionais”.
De acordo com Dora, morrem por ano cerca de 1 milhão de pessoas em todo o mundo por doenças decorrentes da poluição. Para se ter uma idéia, segundo dados da OMS a aids mata cerca de três milhões de pessoas anualmente e os acidentes de trânsito 1,2 milhão. “As mortes causadas por doenças da poluição têm uma magnitude importante."
(Agência Brasil, 06/11/2008)