As eleições ainda estão frescas, mas o mundo já está a pensar no próximo Governo dos Estados Unidos. O novo Presidente eleito, Barack Obama, tem menos de três meses para reunir um grupo de políticos capaz de enfrentar uma crise financeira, duas guerras, um sistema de saúde falhado, um sistema de educação deteriorado e a ameaça cada vez mais presente das alterações climáticas.
A 20 de Janeiro de 2009, quando Obama entrar pela primeira vez na Casa Branca como Presidente, o mundo estará de olhos postos na equipa que escolher para "tratar" do Ambiente. Yvo De Boer, o mais alto responsável pela luta contra as alterações climáticas da ONU, disse hoje que se sente "muito encorajado" com a eleição de Barack Obama. "É impossível avançar com esta questão [o combate às alterações climáticas] sem o compromisso completo dos Estados Unidos", declarou à AFP.
A revista ambiental on-line “Grist”, já fez uma previsão do grupo de profissionais que poderá integrar o novo Governo nas questões ambientais. A maior dúvida é se Obama vai buscar integrantes da era Clinton, ou se tira do bolso um conjunto de “desconhecidos”, com quem vem a trabalhar há uns anos.
A política do Ambiente tem como triângulo de sustentação os departamentos da Energia, da Agricultura e do Interior. Seguidamente existe a Agência de Protecção Ambiental americana (Environmental Protection Agency – EPA) que também vai ter um lugar na mesa de decisões da Sala Oval. A "Grist" sugere ainda a criação de uma nova figura, o “Climate Change Czar”, uma posição bónus que, segundo a revista, mostrará que os EUA estão realmente decididos a combater as alterações climáticas.
Três Departamentos, três desafios
O secretário da Energia tem nas mãos temas ingratos como o armamento nuclear e gestão de todas as questões energéticas. Jason Grumet foi director da Comissão Nacional para a Política da Energia e acompanha Obama desde 2005. O político Ed Rendell restringiu as emissões de mercúrio enquanto governador da Pensilvânia e apoiou Obama depois de Hillary Clinton perder as primárias. Dan Reicher foi assistente do secretário da Energia de Bill Clinton e pode também ser uma escolha.
A alimentação e as políticas agrícolas, a luta contra a fome são responsabilidade do secretário da Agricultura. O antigo governador do Iowa, Tom Vilsack, vindo de um estado que dá grande importância a este sector, é uma aposta segura. O presidente da União Nacional dos Agricultores, Tom Buis ou a populista Stephanie Herseth Sandlin do Dacota do Sul na Casa dos Representantes, são outras escolhas possíveis.
O Departamento do Interior faz a gestão de cerca de um quinto da área dos EUA. Controla parte das reservas energéticas como os depósitos de carvão e gere os parques nacionais e as pescas. Brian Schweitzer, governador democrata do Montana, defende as energias renováveis, o carvão limpo e faz a ponte entre o velho e o novo Oeste. Jamie Rappaport Clark tem um historial de 20 anos a lutar pela protecção das espécies ameaçadas, e foi directora do “Wildlife Refuge System” durante o governo de Clinton. Jay Inslee é um homem do congresso e lutou contra a administração Bush na protecção de áreas não urbanizada - tem uma posição semelhante à de Obama em relação às energias renováveis.
Gore, o guru
O novo administrador da EPA vai ter entre outros desafios, a imposição de limites para a emissão de dióxido de carbono. Mary Nichols, uma das líderes da lei do clima da Califórnia, Kathleen McGinty, ambientalista da Pensilvânia, e Dan Esty, o principal conselheiro de Obama em matérias da energia, são três nomes que podem vir a ser os próximos administradores da Agência.
Já Al Gore é um dos três candidatos avançados pela “Grist” para ser o "Czar do Ambiente". Um posto que a revista propõe para lidar de uma forma directa com as alterações climáticas e o aquecimento global. Apesar de o ex-candidato à presidência dos Estados Unidos e autor do filme “Uma Verdade Inconveniente”, recusar uma futura ligação com o Governo, Obama já falou estar interessado no saber do democrata. Terry Tamminen e Bill Richardson são os outros dois nomes sugeridos. O primeiro é um dos especialistas por trás da política ambiental da Califórnia e Richardson tem um trabalho vasto feito na área do ambiente, para além de ter sido embaixador das Nações Unidas.
A gestão da área agrícola, o fim dos combustíveis fósseis, a aposta no nuclear, a falta de recursos, a perda de biodiversidade da Terra, as alterações climáticas, a sustentabilidade da sociedade ocidental são temas que estão em jogo na política mundial futura e estão subjacentes a qualquer plano de governo de qualquer país.
Os Estados Unidos ainda são o país mais poluidor do mundo e têm sido exímios em fugir às responsabilidades ambientais. Uma das esperanças depositadas no próximo Governo é um corte com a política ambiental da Administração Bush. Apesar do contexto político dar pouca margem de manobra, quem ficar à frente das áreas descritas acima vai viver de perto todos estes desafios.
(Ecosfera, 06/11/2008)