Um carregamento de cerca de 200 toneladas de concentrado de urânio, ou yellow cake, está retido em Caetité (BA) por motivos de segurança, segundo a Polícia Rodoviária Federal. A carga pertence à estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que opera a mina e a usina de beneficiamento de urânio no município baiano. Fontes locais ouvidas disseram ao Greenpeace que a carga devia ter saído na semana passada, mas foi retida na área do empreendimento na última sexta-feira (31/10).
As informações disponíveis indicam que o transporte do material radioativo deverá ser realizado somente após a audiência pública convocada pelo Ministério Público Federal para o dia 7 de novembro, em Caetité (BA). A audiência deverá tratar da denúncia de contaminação da água da cidade feita pelo Greenpeace, e também da falta de segurança dos trabalhadores, segundo informações reveladas por reportagens da TV Record.
No dia 16 de outubro, o Greenpeace lançou o relatório Ciclo do Perigo: Impactos da Fabricação de Combustível Nuclear no Brasil, denunciando a contaminação da água por urânio em um raio de 20 quilômetros no entorno da operação da INB. A água utilizada pelas comunidades locais para beber e cozinhar apresentou índices de urânio até sete vezes acima dos tolerados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Após a denúncia, o MPF agendou a audiência pública e o Instituto de Gestão das Águas (INGA) fez a coleta de amostras para análises complementares em laboratório. Os resultados das análises serão divulgados na primeira quinzena de novembro.
Todos os anos, cerca de 300 toneladas de yellow cake produzidas em Caetité percorrem mais de 700 km de estradas federais e estaduais, atravessando cerca de 40 municípios e povoados até chegar a Salvador. Para expor os riscos dessa etapa do ciclo do combustível nuclear, o Greenpeace demarcou no dia 23 de outubro o trajeto percorrido pelo comboio de caminhões até o portão principal do porto de Salvador. Uma linha contínua e cerca de 30 símbolos radioativos continuam pintados em amarelo no asfalto por cinco quilômetros da avenida Bonocô da capital baiana.
"O adiamento do transporte de yellow cake mostra que o governo e a própria empresa estão mobilizados em torno das denúncias de contaminação radioativa e dos riscos do ciclo nuclear brasileiro", disse Rebeca Lerer, coordenadora da campanha de energia do Greenpeace.
"O Greenpeace está acompanhando a situação de perto e colaborando com os processos do INGA e do MPF com dados e suporte técnico sempre que solicitado. Vamos participar da audiência pública em Caetité com o objetivo de esclarecer os verdadeiros impactos ambientais da produção de material nuclear na região."
(Greenpeace, 04/11/2008)