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amazônia conservação da biodiversidade
2008-11-05

Em uma fria e cinzenta quarta-feira londrina , na Inglaterra, em pleno Natural History Museum, a casa da Ciência britânica, qualquer um se surpreenderia com a cena: em um auditório via-se, ou melhor, ouvia-se, um considerável grupo de ingleses (ao lado) falando português com destreza. O sotaque, não havia dúvida, era brasileiro. A concentração só foi possível porque ali estavam reunidos os mais importantes estudiosos da Amazônia no Reino Unido.

Foi o primeiro encontro organizado por três jovens pesquisadores - Toby Gardner (Cambridge), Jos Barlow (Lancaster) e Rob Ewers (Imperial College) – que tentam unir acadêmicos britânicos, e também dos países que abrigam a Amazônia, em um esforço para compreender melhor o que ocorre na maior floresta tropical do planeta. Como primeiro resultado, o grupo se lançou formalmente e, em breve, colocará na Internet um panorama das pesquisas em andamento.

A academia britânica concentrando esforços no estudo da Amazônia é uma novidade que aos poucos começa a tomar corpo. Nas universidades com cursos de ciências naturais, pesquisadores costumavam olhar com muito mais freqüência questões relacionadas às antigas colônias britânicas, na África e no Sudeste Asiático. Agora, o foco na floresta tropical não é um projeto isolado de um ou outro pesquisador. Há muitas deles e, acima de tudo, possuem recursos consideráveis para financiar seus intentos investigativos.

A Universidade de Leeds, por exemplo, está à frente de uma aliança chamada Rede Amazônica de Inventários Florestais (Rainfor), que até o momento já possui algumas dezenas de sítios de pesquisa espalhados pela Amazônia. Graças ao financiamento da norte-americana Fundação Moore, a iniciativa estenderá sua duração e ampliará o número de pontos de pesquisa nas matas amazônicas até 2012. De acordo com Tim Baker, da Universidade de Leeds, o primeiro período dos estudos esteve focado em mostrar qual a produtividade das espécies vegetais em diferentes regiões da floresta.

A primeira conclusão a que chegaram é de que na Amazônia Ocidental, onde a produtividade é maior, também tem ocorrido uma mortalidade maior de árvores e isso está prejudicando o ciclo de carbono. “Precisamos entender se isso é uma mudança estrutural na dinâmica da floresta”, ele alerta.

Já na Universidade de Oxford, diversos pesquisadores, sob a batuta do professor da Faculdade de Geografia e Meio Ambiente Yadvinder Mahli, também estão ampliando suas pesquisas sobre Amazônia  A universidade anunciou que inaugurará, em novembro, um Centro para Estudos da Florestas Tropicais. E é em Oxford que está concentrado um grande esforço para avançar nas políticas de valoração da biodiversidade e pagamento por serviços ambientais. Lá está o Global Canopy Program, uma iniciativa que reúne acadêmicos do mundo inteiro para estudar como a preservação das florestas tropicais é essencial para a manutenção do equilíbrio do clima e do regime de chuvas.

No meio da selva
Dois dos organizadores da reunião no Natural History Museum de Londres – Barlow (ao lado) e Gardner -, além de jovens e apaixonados pela Amazônia, têm outro traço em comum: foram todos orientandos do brasileiro, de Belém do Pará (como ele gosta de enfatizar), Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (UEA). Hoje diretor do Departamento de Ciências Ambientais da Faculdade de Ciências, Peres talvez seja um dos grandes responsáveis pela crescente difusão do tema amazônico na academia britânica. Ele é autor de diversos papers em parceria com alunos de doutorado. “Eu dou a chance para o pessoal entrar nos projetos e depois quero que eles caminhem com as próprias pernas”, comenta.

Algumas das pesquisas de doutoramento de alunos de Peres na UEA foram apresentadas e foi possível entender porque todos aprenderam a falar Português. Os jovens cientistas literalmente se enfiaram no meio da mata brasileira. Luke Parry, por exemplo, está finalizando sua pesquisa, que consistiu em subir oito tributários do Rio Amazonas, entrevistando todos os ribeirinhos. Assim, juntando as quase 200 visitas feitas nos 18 meses em que esteve nas matas brasileiras, Parry tenta agora montar um índice que mostre qual o impacto do Bolsa Floresta (do governo amazonense) na dinâmica migratória dos ribeirinhos.

O norueguês Tor Haugaasen, que faz parte da Faculdade de Ciência Naturais da Noruega, também finalizou seu doutorado na UEA após meses de pesquisa de campo na região do alto Purus, no Amazonas. Entre os artigos publicados por ele, em parceria com Peres, surgiram evidências de que há uma concentração de biodiversidade nas áreas de várzea da Amazônia bem maior do que se supunha. O local da pesquisa de Haugaasen, na região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uauaçu, revelou que as partes com mais biodiversidade, portanto aquelas que estavam em área de várzea, não tinha sido incorporadas no planejamento da unidade de conservação.

O próprio Carlos Peres estava presente no evento e mostrou em linhas gerais qual tem sido a orientação de suas pesquisas. Ele tem buscado construir um método para compreender as áreas mais férteis e ricas em vida da Amazônia. Dados que podem, num futuro bastante próximo, guiar a planificação de novas unidades de conservação. A necessidade de “mega-reservas” na Amazônia tem sido um dos pontos constantes nas palestras e apresentações de Peres.

Para entender a Amazônia
Outro fator que tem contribuído para o engajamento dos pesquisadores nas universidades britânicas é a relação entre mudança climática e os ciclos de carbono na Amazônia. O que se viu nas apresentações no Natural History Museum é que muitos pesquisadores estão dirigindo suas propostas de investigação a temas relacionados com os efeitos do aquecimento global sobre a floresta. Muito desta preocupação surgiu após os modelos do Hadley Centre (o departamento britânico oficial de meteorologia) demonstrarem que a Amazônia pode se tornar um bioma bem mais seco e quente nos próximos anos. Portanto, mais suscetível a grandes incêndios.

O brasileiro Luiz Aragão por exemplo, está iniciando um novo ciclo de pesquisas para calcular exatamente qual é a contribuição da degradação florestal nas emissões de carbono da Amazônia. A hipótese é de que pode haver um nível de emissão maior do que aquele que foi estimado nos relatórios das Nações Unidas. Entender o ciclo de carbono é, ao lado do estudo de incêndios florestais, um dos campos mais explorados. Aragão prepara, por exemplo, um paper para mostrar que, após os grandes incêndios florestais de 2005, na Amazônia Ocidental, o número de focos permaneceu elevado nos anos posteriores. Ou seja, a floresta ficou mais frágil.

Alguns pesquisadores argumentaram que ainda é preciso aumentar os dados históricos para entender o que realmente está passando na floresta tropical. A falta de dados parece atingir as mais diversas áreas. Botânicos representando o Jardim Botânico da Grã-Bretanha, o Kew Gardens, fizeram observações de que faltam dados precisos sobre espécies vegetais. William Miliken, do Kew, apontou a Internet como uma grande aliada nestes esforços. Sites e bases de dados, aos poucos, permitem que pesquisadores possam fazer identificações precisas à distância.

Ainda assim, apontou o geneticista do Jardim Botânico de Edinburgo, Toby Pennington, o próximo desafio será fazer o seqüenciamento genético de diversas espécies para compreender a biodiversidade. “A verdade é que, em pleno século 21, nós entendemos muito pouco a Amazônia”, concluiu.

(Por Gustavo Faleiros, OEco, 04/11/2008)


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