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biocombustíveis
2008-11-05

Você já deve saber o que é um motor flex, ou pelo menos já notou que atualmente carros com o ‘selo’ biocombustível – álcool e gasolina – dominam a paisagem do trânsito nas cidades brasileiras. Mas o que reavivou este interesse pelo etanol como fonte de energia? Como os demais países recebem esta possibilidade? O que esperar deste mercado para o futuro? E, principalmente, o que isto pode significar para o meio ambiente, numa época em que a queima de petróleo é vista como uma das grandes vilãs da poluição? 

Fácil notar que o debate sobre formas alternativas de energia está longe de ser uma questão pertinente apenas a quem trabalha no setor. Para levar o tema bioenergia ao grande público, a USP organizou um livro – montado a partir da Conferência Nacional de Bioenergia (Bioconfe), realizada no final de 2007 – com contribuições de especialistas diversos, que abordam de maneira compreensível todos os aspectos relacionados à questão. Editado pela Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da USP e com organização de Francisco Costa, Bioenergia será lançado nesta quarta-feira (05/11).

“Tentamos fazer uma coisa que ainda não havia sido feita: chamar o mundo empresarial – dos produtores e investidores – e o mundo dos cientistas: químicos, biólogos, agrônomos, geógrafos, para fazer um debate de onde pudesse sair uma idéia geral do estado da arte desta área. Não quisemos fazer uma cartilha, o 'beabá' da bioenergia, mas também não é um produto só para os iniciados, e sim para qualquer um que deseje conhecer o assunto. E é isso que deve ser entendido como divulgação científica”, afirma Wanderley Messias da Costa, coordenador da CCS, professor do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e presidente da comissão organizadora da conferência que originou a obra.

Mercado

Em 2007, quando da realização da Bioconfe, a maioria dos vetores indicava uma tendência de crescimento da demanda dos biocombustíveis nas próximas décadas. Mas como está este quadro hoje? “Especialmente depois do estouro da bolha econômica, não temos como prever com exatidão o que irá acontecer, mas mesmo as projeções mais conservadoras ainda indicam uma tendência de aumento no investimento em energias renováveis”, esclarece Weber do Amaral, professor do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP. Além disso, o professor explica que atualmente o share (participação) dos biocombustíveis em toda a matriz energética utilizada nos transportes é de apenas 2,8%, o que pode ser visto positivamente, como indicação de que é um mercado com grande espaço para crescer. “Nos próximos 20 anos, a expectativa é que essa participação possa chegar a 10% dos três trilhões de litros de combustíveis produzidos anualmente, o que é um volume considerável.”

Para Weber, a descoberta das reservas de petróleo nas camadas do pré-sal brasileiro não muda este panorama, e pode até beneficiar indiretamente a produção, pois dá uma tranqüilidade maior ao país quanto ao suprimento energético. Wanderley concorda: “se conseguíssemos abastecer nossa frota de automóveis com álcool, por exemplo, poderíamos nos tornar um exportador de petróleo, como a Venezuela. Além de gerar divisas, isto seria fantástico para o Brasil do ponto de vista estratégico”.

O 'problema' é que o custo do etanol da cana produzido aqui é muito baixo em relação ao de outros tipos, como de milho e beterraba, além de termos tido investimentos muito pesados no setor, com grande expansão da produção. “Numa conjuntura recessiva como esta, que começamos a entrar, o que me preocupa é o risco de uma superoferta e, conseqüentemente, de que os produtores se desinteressem em investir neste mercado”, adverte Wanderley.

Além disso, o professor explica que esta é uma atividade voltada predominantemente para o mercado interno. “É muito improvável que mercados como o norte-americano se abram para nosso álcool. Eles vão continuar a produzir o de milho, com fortes subsídios governamentais, pois não poderiam concorrer com o baixo custo do nosso etanol. E na Europa o mesmo. Sem contar que não basta comprar ou não comprar etanol – é preciso criar todo um sistema, com adaptação dos motores automotivos para que incorporem o álcool – e não é esta uma tendência que se veja. Mercados consumidores possíveis para a exportação, mesmo que sendo também produtores de álcool são a China, e talvez a África do Sul, Índia, e alguns países latino-americanos.”

Uma boa opção para as unidades produtivas brasileiras é apostar nas receitas resultantes da geração de energia elétrica a partir do bagaço da cana-de-açúcar, que garantem maior rentabilidade às empresas, tornando-as mais resistentes a ciclos de baixa do mercado. Essa é a sugestão de Henri Philip Reichtsul, presidente da Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco), que deve iniciar suas atividades comerciais em 2009. “Nossa companhia já garantiu capital próprio e financiamento junto ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento] para custear suas quatro primeiras unidades, e já começou a visitar potenciais clientes. Este mês fechamos contrato de longo prazo com a Lyondell, uma das maiores fabricantes de polímeros, pe troquímicos e combustíveis no mundo”, comemora o executivo.

Inovação

Tem crescido o volume do aporte de recursos para e projetos de pesquisa na área de biocombustíveis, indicando que há o entendimento de que esta é uma linha prioritária para o país. “O que está faltando hoje não são recursos, mas bons projetos: a capacitação de uma nova geração de pesquisadores que desenvolvam ações interdisciplinares e que promovam uma aliança com a iniciativa privada, para que possamos ganhar escala na corrida tecnológica por combustíveis de segunda geração”, explica o professor Weber.

Nos Estados Unidos, por exemplo, verifica-se um número significativamente superior ao Brasil de pesquisadores voltados para os biocombustíveis. Porém, aqui temos um nicho de mercado muito importante, já que nenhum etanol é tão competitivo quanto o de cana-de-açúcar. “O que precisamos é ganhar escala comercial, isto é, tirar a inovação das universidades, saindo da escala exclusivamente acadêmica, e aplicá-la nos processos industriais”, reforça o professor.

Ainda, na opinião de Weber, é necessário fazer evoluir a agenda do setor do governo para uma agenda de nação, isto é, de logo prazo e independente dos líderes do governo que estejam no comando no momento. “Estamos vivendo um momento muito importante de valorização e reconhecimento mundial do papel do Brasil como liderança no setor. Temos que demonstrar que temos condições de nos manter nesta posição mesmo com as incertezas da economia”, completa.

Meio ambiente

Nenhuma indústria, ou melhor, nenhuma atividade humana é 100% inofensiva ao meio ambiente – e não se poderia esperar isso de uma indústria de combustíveis. Mas, ao menos do ponto em que o etanol vai para o tanque de um veículo em diante, já se pode dizer com certeza de que se trata de um combustível menos poluente do que a gasolina. “Isso é uma coisa fácil de medir em experiências de laboratório, bastando analisar os tipos e quantidades de gás que resultam da queima dos combustíveis”, explica Wanderley. Então, já se sabe que em termos de poluição e danos diretos à saúde, o álcool fica atrás da gasolina, do óleo combustível cru e diesel, e do carvão mineral, que gera subprodutos extremamente nocivos.

Já quando pensamos em termos de processo de produção da cana para gerar o etanol, existem algumas críticas ambientais. “Em primeiro lugar, a agroindústria canavieira é uma monocultura – e todo cultivo homogêneo em larga escala é mais danoso ao meio ambiente: elimina a biodiversidade; tem impacto no solo, com um potencial bem maior de provocar erosão; e é mais suscetível aos predadores biológicos, demandando um uso maior de agrotóxicos, que por sua vez impactam negativamente nos ecossistemas.”

Entretanto, o geógrafo faz uma ressalva. “Quando alguém desmata uma área de floresta para fazer uma pastagem, isto se trata de um crime ambiental terrível. Mas se esta pastagem se tornar decadente, com pouquíssimas cabeças de gado por hectare, além de isto ser um crime ambiental, é um crime econômico. Assim, se você remove esta pastagem decadente e em seu lugar planta cana-de-açúcar, isto é bem mais defensável do ponto de vista social e econômico. E a indústria canavieira do estado de São Paulo hoje está avançando sobre pastagens decadentes. Pode-se questionar se mais tarde, quando acabarem as áreas de pastagens ou quando plantar cana começar a dar muito mais lucro do que plantar feijão, por exemplo, este cultivo ocupará áreas de cultivo de alimentos”.

E pode ser que a expansão da cana cause o deslocamento das pastagens do estado de São Paulo para locais como o Mato Grosso, por exemplo, provocando desmatamentos daquela região até a região amazônica. “No momento, este quadro não reflete a realidade, mas é um cenário possível e que suscita reflexões para o futuro”, pondera o professor.

Serviço

Bioenergia - Conferência Nacional Realizada de 26 a 28 de setembro de 2007
Editora da CCS
280 páginas
Distribuição gratuita - pedidos: markccs@edu.usp.br

(Por Luiza Caires, USP online, 04/11/2008)


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