A crise financeira mundial pode dar chances ao Brasil de desenvolver uma economia em bases mais sustentáveis, segundo acreditam parlamentares ligados à questão ambiental. O deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO), ex-presidente da Comissão Mista Especial sobre Mudanças Climáticas, considera que, em um cenário de escassez de recursos, será necessário priorizar projetos relacionados ao desenvolvimento sustentável.
"Toda crise estabelece um quadro de oportunidades", afirma o deputado. Segundo ele, as dificuldades econômicas podem levar a uma retração do crédito para projetos de agricultura extensiva ou a uma diminuição de recursos para grandes empreendimentos. Ele acredita que é hora de chamar atenção para alternativas com menor impacto e compatíveis com a agricultura familiar, como a produção de biodiesel em áreas menores.
Novo modelo
O presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Sarney Filho (PV-MA), também avalia que a crise provocará uma reflexão sobre o atual modelo de desenvolvimento. Segundo ele, o Brasil deveria buscar uma "economia ecológica".
"Por que não aproveitar este momento único da crise global para avançar em relação ao que é a grande vantagem de um país diverso como o nosso e incorporar a economia ecológica aos balanços nacionais?" questiona.
Sarney Filho cita como exemplo a importância dos benefícios ambientais gerados pelos biomas brasileiros. "Todo o mundo sabe que a Amazônia presta relevantes serviços à humanidade no tocante à qualidade do ar, ao regime de chuvas, à reserva de biodiversidade", argumenta.
Efeitos
O pagamento pelos "serviços ambientais" tem sido defendido pelo Brasil em conferências internacionais. O Fórum sobre Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) concorda com a idéia, de acordo com o coordenador do grupo, José Mota.
Mota afirma que esse pagamento deveria ser feito pelos países mais ricos, com economias fortes. "Eles têm muitas reservas e se apropriaram das riquezas dos países em vias de desenvolvimento", alega.
O economista do IPEA ressalta que o Brasil tem condições econômicas internas bastante favoráveis para assumir, sozinho, esforços de redução das emissões de gases de efeito estufa. A principal iniciativa, segundo ele, deve ser a redução do desmatamento na Amazônia.
(Por Mônica Montenegro, Rádio Câmara, 03/11/2008)