Árvores do Clube Duque de Caxias, ao lado do aeroporto do Bacacheri, ficam no caminho dos aviõesUm impasse entre a Infraero e o Clube Duque de Caxias está atrapalhando as aterrissagens no aeroporto Bacacheri em Curitiba. A empresa pediu o corte de cerca de 80 árvores do clube que, por estarem alta demais, interrompem a chamada “rampa de aproximação”, linha de segurança imaginária que os pilotos percorrem antes de pousar. Com essa violação, os pilotos são obrigados a manter a altura das aeronaves por mais tempo e têm menos espaço para pousar. Os sócios do clube realizaram uma assembléia e decidiram não fazer o corte, pois segundo eles algumas exigências, como o replantio de outras mudas por parte da Infraero, não estariam sendo cumpridas.
As árvores são pínus que chegam a mais de 15 metros de altura e ultrapassam em até 12 metros a altura da “rampa de aproximação”. O problema foi detectado pelo Departamento de Controle de Espaço Aéreo, que faz mediações deste tipo em todos os aeroportos do Brasil. A situação é antiga, mas de acordo com a Infraero eram feitas podas preventivamente. Uma nova direção assumiu o clube e fez uma reunião com os associados. De acordo com eles, a empresa não teria conseguido explicar no encontro os motivos para a remoção de tantas árvores.
O superintendente do aeroporto, Wilson Rocha Gomes, afirma que há três anos eles foram obrigados a recuar mais de 300 metros de pista para evitar acidentes. O Cindacta, que controla pousos e decolagens, também proibiu pousos noturnos neste lado da pista, pois não há como visualizar as árvores. Com a proibição, os aviões são forçados a pousar em um só lado da pista, o que causa sobrecarga e aumenta o perigo. “Uma colisão tem sempre vários fatores e este com certeza é um. Geralmente quando cai um avião é por causa de uma seqüência de vários incidentes pequenos, que somados viram um acidente”, explica. “Há dez dias, um avião bimotor teve problema em um dos motores e fez um pouso. Ocorreu tudo bem, mas era de manhã e não tinha vento. As condições estavam propícias. Esta mesma pane em outro dia, com ventos fortes, com certeza resultaria em um acidente”.
A direção do clube diz que é necessário fazer um estudo antes de iniciar a derrubada, mesmo com as árvores não sendo nativas da região e com a permissão para o corte. “Há outros prédios, outras árvores e um moinho que também estão no caminho. Por que só a Duque de Caxias tem que se adaptar?”, pergunta o presidente do clube, Manuel Oliveira Azevedo. O superintendente do aeroporto afirma que o moinho ultrapassa em apenas 2 metros a linha de aproximação e que as árvores do clube são 90% dos obstáculos. “Nas cartas de vôo já há um aviso sobre o moinho, mas como vamos avisar sobre a altura das árvores se elas crescem e não têm sinalização”.
Apesar disso, Azevedo afirma que os associados entendem a questão, mas não querem que o corte seja feito em uma semana. “Queremos algo estudado e gradual, senão vamos ficar sem nenhuma árvore”. Porém, a última decisão é que só com determinação judicial o bosque sai de lá. “Temos que pensar em como será o replantio das mudas e elas também têm que estar crescidas já, senão nem vamos mais estar aqui quando derem um pouco de sombra”, explica. “Não é ‘depois o clube que se vire’. Somos quase 12 mil pessoas”.
Ele diz que a preocupação dos associados é também com o meio ambiente, pois mesmo não sendo árvores nativas, elas fazem troca de gás carbônico da mesma forma. No entanto, o Cindacta afirma que há planejamento para o replantio das árvores e que eles assumiram o compromisso de auxiliar o clube nos próximos anos.
Os pilotos reclamam das árvores e da falta de opções na hora de pousar. Durante o dia, eles afirmam que conseguem contornar o problema, mas há dificuldade quando o tempo não está bom. Dependendo da performance do piloto, também pode haver mais riscos. “À noite somos obrigados a pousar em outra cabeceira. Quando o vento não está favorável a coisa complica, pois esta cabeceira é morro-abaixo e dificulta a frenagem da aeronave”, explica o piloto Carlos Grou, que está na profissão desde a década de 80. Um colega dele que não quis se identificar afirma que uma vez já chegou a tocar a copa das árvores. “Faço uma média de dez vôos por semana e acho que nossa segurança fica restrita”, diz.
Pilotos estão expostos, diz sindicalistaO diretor de segurança de vôo do Sindicato dos Aeronautas, comandante Carlos Camacho, afirma que as árvores do clube comprometem a segurança dos pilotos e das aeronaves e que o risco de acidente é muito grande. “Com esses obstáculos, o piloto tem que voar mais alto. E quanto maior a altura em relação ao solo na hora do pouso, maior é o risco”, diz. Camacho explica que o piloto tem que descer bruscamente, já que não consegue diminuir a altura pouco a pouco. “Ele tem que literalmente ‘afundar’ e dependendo da situação pode se expor ao risco”.
Pista é a quarta mais movimentada da Região SulO aeroporto do Bacacheri teve sua origem no Colégio Agrícola Estadual. Na década de 30, a aviação militar estabeleceu um regime de aviação no bairro. Em 1980, devido ao grande fluxo de aviação civil, parte da área foi tranferida para a administração da Infraero. Hoje, em número de pousos e decolagens, o aeroporto é o quarto mais movimentado do sul do país, ficando atrás apenas do Afonso Pena, em São José dos Pinhais; do Salgado Filho, em Porto Alegre; e do aeroporto Internacional de Florianópolis. São cerca de 70 operações por dia, que transportaram quase 45 mil passageiros em 2007.
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Gazeta do Povo, 04/11/2008)