Há milhares de anos o homem deixou a África, dispersando-se por outros continentes não por conta de mudanças ambientais, mas movido por inovações tecnológicas e pelo desenvolvimento de organizações sociais.
A afirmação é de um estudo feito por um grupo de pesquisadores da África do Sul, Austrália e Reino Unido, publicado na edição de 31 de outubro da revista Science.
O Homo sapiens começou a se dispersar da África entre 80 mil e 60 mil anos atrás, em um período destacado pelo surgimento de duas importantes tradições de construção de ferramentas, conhecidas como Still Bay e Howieson’s Poort. No mesmo período surgiram as evidências de uso de símbolos e artefatos como ornamentos pessoais.
Duas teorias concorrentes emergiram para explicar a migração a partir da África. A primeira propôs que as inovações teriam sido o principal catalisador, embora sem concluir se a dispersão foi movida pela inovação ou se ocorreu o contrário. A segunda teoria sugere que mudanças ambientais conduziram os ancestrais dos atuais humanos em busca de novas terras.
Um importante obstáculo para resolver o debate tem sido a ausência de uma clara linha do tempo da expansão humana pelo continente africano. No novo estudo, Zenobia Jacobs, da Universidade de Wollongong, na Austrália, e colegas dataram sistematicamente diversos artefatos produzidos pelas duas antigas tradições.
As peças foram encontradas em nove sítios arqueológicos localizados em diferentes zonas climáticas e ecológicas no sul do continente. Segundo a pesquisa, as duas indústrias antigas não duraram muito tempo, menos de 5 mil anos cada uma.
De acordo com os pesquisadores, o desenvolvimento das duas tradições não parece ter relação com qualquer mudança climática conhecida. “Comparações feitas com registros climáticos mostram que essas explosões de comportamento inovativo não podem ser explicadas apenas por fatores ambientais”, destacaram.
O artigo "Ages for the Middle Stone Age of Southern Africa: Implications for human behavior and dispersal", de Zenobia Jacobs e outros, pode ser lido por assinantes da Science.
(Agência Fapesp, 31/10/2008)