A comunidade científica internacional aprovou um novo programa mundial de investigação, com o intuito de perceber a relação entre o homem e os ecossistemas que fornecem elementos essenciais para a manutenção da vida. A decisão foi tomada durante a Assembléia-geral do Conselho Internacional para a Ciência (ICSU), e deverá ajudar a fornecer os conhecimentos científicos necessários para garantir um uso sustentável dos nossos preciosos ecossistemas.
Ecossistemas e a vida na Terra
Os ecossistemas fornecem benefícios essenciais à vida na Terra (alimentação, água, abrigo, habitat, obtenção de substâncias nutritivas, formação e capacidade de retenção do solo). Além disso, têm funções culturais e recreativas (espirituais, estéticas, educacionais e ligadas ao ecoturismo).
Em 2005, a Avaliação dos Ecossistemas do Milênio revelou que, em virtude das atividades humanas, mais de 60% das funções desempenhadas pelos ecossistemas apresentavam degradação ou estavam sendo usadas de maneira não sustentável.
"As alterações climáticas, a poluição, as mudanças na ocupação do solo e as espécies invasoras, somadas ao crescimento da população, ao crescente consumo, à globalização e à urbanização, exercem uma enorme pressão sobre o meio ambiente para que este forneça os elementos de que necessitamos", declarou Hal Mooney, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e Presidente do grupo responsável pela redação do relatório que recomendou a criação do novo programa.
Uso dos recursos que garantem a manutenção da vida
Se por um lado a Avaliação dos Ecossistemas do Milênio forneceu um quadro da situação em que se encontra a sociedade no que tange ao uso dos recursos que garantem a manutenção da vida, por outro lado subsiste ainda um vasto trabalho de investigação a ser efetuado, em particular nas áreas do conhecimento em que foram constatadas importantes lacunas durante o desenvolvimento da Avaliação.
O ICSU - em colaboração com a UNESCO e a Universidade das Nações Unidas - assumiu uma posição de liderança em relação a esta questão, criando um importante programa internacional, denominado Alterações dos Ecossistemas e Bem-estar Humano, com o objetivo de minorar algumas destas lacunas de conhecimento. No entanto, é fundamental que esta investigação seja efetuada imediatamente para que possa ser integrada na segunda Avaliação dos Ecossistemas do Milênio, cuja realização está prevista para os próximos cinco a sete anos.
Questões estratégicas à sobrevivência
Segundo o Professor Mooney, "para além de grandes nomes do cenário científico, o programa contará com a participação de pessoas não pertencentes à comunidade científica, que contribuirão para traçar as suas linhas gerais, através de uma abordagem participativa no processo de definição de prioridades. Desta forma, o programa estará à altura para responder às principais questões estratégicas relacionadas com os problemas colossais que a sociedade enfrenta para preservar o meio ambiente, fonte de bens e serviços essenciais à nossa sobrevivência".
Este programa é importante não apenas para o fornecimento de dados para a Avaliação, mas também pela própria importância da ciência. Estabelece um vínculo entre as ciências naturais e sociais e as funções dos ecossistemas, integrando os três pilares do desenvolvimento sustentável - ambiental, econômico e social.
Redução da pobreza e proteção do meio ambiente
"A adoção de uma abordagem com base nas funções dos ecossistemas mostra claramente que a redução da pobreza e a proteção do meio ambiente constituem parte integrante de um projeto de desenvolvimento único, e não oposto", declarou Bob Scholes, ecologista de sistemas do Council for Scientific and Industrial Research, da África do Sul.
"Os países em desenvolvimento, especialmente na África, têm a possibilidade de decidir de que forma aumentar a riqueza global da população: de uma só vez, destruindo os seus abundantes recursos naturais, ou com sustentabilidade, através da utilização responsável". (Por Jacinta Legg, Inovação Tecnológica, 31/10/2008)