Enfrentando temperatura de até -50°C e ventos que podem ultrapassar 140 km/h, uma missão científica comandada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) fará história na Antártica ainda neste mês. A Expedição Deserto de Cristal (referência à paisagem encontrada) será a primeira financiada e liderada pelo Brasil no interior do continente, longe da ilha Rei George, onde fica a Estação Comandante Ferraz.
Segundo os integrantes do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas (Nupac) do Departamento de Geociências da UFRGS, nos últimos 25 anos o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) realizou expedições no oceano, nas ilhas e na costa da Antártica. Nunca as missões científicas avançaram no continente.
– Estamos falando de trabalho científico, não de turismo de aventura, o que alguns brasileiros já fizeram lá. O Brasil também participou de missões de pesquisa no interior do continente, mas como convidado. Agora, nós é que estamos convidando um chileno – diz o geógrafo e professor da UFRGS Francisco Eliseu Aquino, um dos expedicionários.
Grupo terá de conviver com sol durante as 24 horas
A viagem é a principal atividade brasileira planejada para o Ano Polar Internacional (2007-2009), um esforço que envolve 63 países em investigações científicas na região até 2011. Todas as pesquisas são focadas nas mudanças que ocorrem nas regiões polares e na importância ambiental e econômica que elas têm para o planeta.
O projeto, liderado pelo glaciólogo gaúcho Jefferson Simões, o primeiro brasileiro a chegar por terra ao Pólo Sul, foi eleito pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do qual recebeu recursos. Parte dos equipamentos de logística e insumos alimentícios veio do programa antártico.
Dos oito pesquisadores, cinco são da UFRGS, dois da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e um é da Universidad de Magallanes, do Chile. Pós-doutoranda no Departamento de Geografia da UFRGS, Rosemary Vieira será a primeira mulher brasileira em uma expedição de pesquisa no continente (veja entrevista na página ao lado).
O grupo deve partir no dia 19, devendo retornar em janeiro. Ao todo, serão 40 dias dentro da Antártica, vivendo em barracas que absorvem o calor do sol e oferecem uma agradável temperatura interna de até 0°C. Do lado de fora, em dias bons, a média será de -20°C. Terão de conviver com sol durante as 24 horas do dia. Por causa da alta radiação solar, a pele exposta queima com facilidade ao mesmo tempo que congela.
– Já estamos começando a sentir falta de tomar banho antes mesmo da viagem. Lá, a higiene será feita apenas com lenços umedecidos. Gastar combustível para derreter a água de banho seria um desperdício – afirma Aquino.
(Por Leandro Rodrigues, ZH, 02/11/2008)