Pesquisadores americanos acabam de medir, pela primeira vez, o teor atmosférico de um poderoso gás de efeito-estufa. Ora, este não havia sido levado em conta por ocasião das negociações internacionais visando à redução das emissões - ao passo que o seu poder de aquecimento é 17.000 vezes mais elevado que o do CO2. O trifluoreto de nitrogênio (NF3) está presente na atmosfera em concentrações tão reduzidas que até então, havia sido impossível avaliá-lo.
Este obstáculo foi aplainado por Ray Weiss e seus colegas da Scripps Institution of Oceanography (a Instituição Scripps de Oceanografia, da Universidade da Califórnia, em San Diego), cujos resultados deverão ser publicados na sexta-feira, 31 de outubro, na revista especializada "Geophysical Research Letters" (Cartas da Pesquisa Geofísica). Segundo eles, a concentração atmosférica de NF3 limitava-se, em julho, a 0,454 partes por trilhão (ppt) e participava então numa proporção de até 0,15% apenas do efeito-estufa antrópico (produzido pelo homem).
Entretanto, ao estudarem as amostragens da troposfera (a camada atmosférica mais próxima da superfície terrestre, situada de 10 km a 12 km de altitude), que foram colhidas desde 1978, os autores desses estudos conseguiram medir a velocidade na qual a concentração de NF3 vem aumentando na atmosfera: naquele ano, esta não passava de 0,015 ppt. No espaço de trinta anos, a concentração deste gás, portanto, foi multiplicada por um fator 30 - ou seja, um crescimento quase exponencial no decorrer deste período.
Existe um outro motivo para preocupação: o tempo de residência na atmosfera do NF3 é cinco vezes maior que o do gás carbônico, que já é da ordem de um século...
Um teor subestimado
As razões que explicam essa disparada se encontram em recentes alterações nas práticas industriais. Com efeito, a produção de trifluoreto de nitrogênio está intimamente vinculada a certas produções de circuitos integrados e de telas de cristais líquidos.
O NF3 é também utilizado como substituto para certos hidrocarbonetos perfluorados (PFC), os quais, por sua vez, já estão incluídos na lista dos gases de efeito-estufa que foram levados em conta nas negociações internacionais (dióxido de carbono, metano, PFC, óxido nítrico, etc.).
Os pesquisadores fazem uma outra constatação que evidencia toda a dificuldade para se lutar contra o aquecimento: o NF3 é necessário para a produção de elementos das células fotovoltaicas - cuja utilização é reputada como benéfica na luta contra o efeito-estufa antrópico.
"Esses primeiros valores de NF3 que foram medidos na atmosfera mostram que as concentrações atuais são significativamente mais elevadas do que havia sido previsto, com base apenas nos dados fornecidos pelos industriais", acrescentam os autores da pesquisa.
As extrapolações que haviam sido feitas em função dos dados industriais de 2006 apontam, por exemplo, uma concentração atmosférica quatro vezes inferior àquela que foi medida no decorrer do mesmo período...
Portanto, os pesquisadores recomendam, na conclusão do seu estudo, que o NF3 seja "acrescentado na lista dos gases de efeito-estufa perfluorados, cuja produção é repertoriada e cujas emissões são regulamentadas", a partir de 2012.
(Por Stéphane Foucart Le Monde, le Monde, UOL, 02/11/2008)