Uma verdadeira revolução que combine o uso eficiente da energia e sua produção em fontes renováveis salvaria o mundo da devastação da mudança climática e seria economicamente rentável, afirmam especialistas. Esta mudança radical implicaria a criação de uma enorme indústria mundial e a economia de bilhões de dólares em combustíveis, diz um informe do Conselho Europeu das energias Renováveis (Erec) e da organização ambientalista Greenpeace Internacional.
O estudo, intitulado “Energy [R]Evolution: A sustainable world energy outlook” ([R]Evolução energética: Um panorama sustentável da energia mundial), calcula que o investimento necessário para criar um planeta com baixa emissão de gases causadores do efeito estufa daria origem a uma indústria de US$ 360 bilhões anuais. “Um futuro de energia renovável é possível”, disse à IPS Meg Boyle, especialista em políticas sobre aquecimento global da filial norte-americana do Greenpeace. “A revolução energética estabelece um plano para chegar de onde estamos aonde devemos estar. Investir em energia renovável e eficiência energética é bom para a segurança energética, a economia e o clima”, acrescentou.
O programa se baseia na previsão de que impedir uma catástrofe climática obriga a uma redução das emissões mundiais de dióxido de carbono até 2015. Os autores do estudo prevêem que até 2050 as emissões de carbono terão diminuído 50%, caso o plano sugerido seja adotado. O informe apresentado esta semana estabelece como primeiro passo necessário explorar o potencial técnico do aumento da eficiência energética, melhorando, por exemplo, o isolamento dos edifícios ou substituindo as calefações convencionais e os sistemas de água quente por outros alimentados com fontes renováveis. Além disso, para reduzir as emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa é necessária a expansão dos sistemas de transporte público e a redução do uso de veículos particulares.
As principais mudanças se referem à produção de eletricidade. As centrais elétricas de grande escala hoje em voga – a maioria das quais consomem insumos não renováveis com carvão, gás e petróleo – devem ser substituídas por unidades menores e descentralizadas solares, eólicas ou geotérmicas. Para conseguir este objetivo, “a indústria elétrica deverá assumir a responsabilidade de reduzir as emissões, pois os investidores decidirão quais fontes de energia usaremos na próxima geração”, disse Boyle.
Oliver Shcäfer, diretor de políticas do Erec, enfatizou que a revolução energética também renderá lucro financeiro. “O mercado mundial da energia renovável pode crescer dois dígitos ao ano até 2050, e reduzir a dimensão ao atual setor dos combustíveis fósseis”, assegurou. “O mercado da energia renovável vale hoje US$ 70 bilhões e duplica de tamanho a cada três anos”. Na medida em que se tornam escassos os combustíveis fósseis, seus preços aumentam, encarecendo a dependência das fontes não renováveis de energia. O informe estima que, se o sistema não for mudado, o custo total do fornecimento mundial de eletricidade aumentará dos atuais US$ 1,75 bilhão para US$ 3,8 bilhões até 2020.
Mas a revolução energética, segundo o Greenpeace e o Erec, economizará US$ 18,7 bilhões até 2030, o que representa US$ 750 bilhões anuais a partir de agora. Seguindo o programa, o mundo poderá cobrir 32,5% de suas necessidades de eletricidade com fontes renováveis de energia até 2020. Embora tecnologias já comuns como a solar e a eólica possam ir na vanguarda, as novas tecnologias combinarão diferentes fontes. Por exemplo, solar, térmica, geotérmica ou energia oceânica. Outro resultado da adoção desse enfoque será maior igualdade entre países ricos e pobres no uso dos recursos.
Como os países industriais têm um uso de energia muito maior por pessoa – e, portanto, emitem a maior parte dos gases de efeito estufa – deverão reduzir suas emissões antes das economias em desenvolvimento, chegando a um teto antes de 2015. Os países em desenvolvimento terão de estabilizar suas emissões até 2020 e reduzi-las mais depois de 2030. Este contexto temporal lhes permitirá crescer mais do ponto de vista econômico. “Eles necessitam aprender com os erros do mundo industrializado e investir em energia renovável em lugar das baseadas em carbono e na nuclear”, disse Boyle.
Perguntado sobre o quanto é realista sua iniciativa de revolução energética, Boyle lamenta que “até agora a velocidade do progresso da comunidade internacional para um novo acordo climático tenha ficado muito baixa em relação ao ritmo necessário para evitar a catástrofe climática”. Agora o Greenpeace chama os líderes mundiais a chegarem a um acordo sobre novos tetos para as emissões do Norte industrial, bem como sobre um financiamento maciço para as energias renováveis, a eficiência energética e a adaptação à mudança climática dos países em desenvolvimento. “Os governos do mundo industrializado – onde, como demonstra nosso plano, as barreiras à mudança são políticas, não técnicas – devem tomar à frente e agir rapidamente para implementar um forte acordo climático global”, afirmou Boyle.
(Por Wolfgang Kerler, IPS, Envolverde, 30/10/2008)