Vários líderes europeus estarão a preparar, em segredo, um plano para acelerar a introdução de culturas e alimentos transgénicos e desmontar a resistência da opinião pública em relação aos OGM, revelou o jornal britânico “The Independent”, que teve acesso a documentos relativos a reuniões privadas entre representantes dos 27 Estados membros.
O jornal “The Independent” divulgou este domingo que teve acesso a documentos confidenciais, incluindo as conclusões dos dois encontros realizados até ao momento, a 17 de Julho e 10 de Outubro, organizados por José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.
Estes documentos mostram que as discussões se centraram sobre como acelerar a autorização concedida à introdução de culturas OGM (organismos geneticamente modificados) - “sem comprometer as questões de segurança” - e como convencer as pessoas a aceitá-las. Segundo esses documentos, os líderes querem que os “representantes dos agricultores” e da “indústria” sejam mais activos para responder aos “interesses” dos ambientalistas.
Actualmente, os produtos transgénicos têm de ser aprovados pela União Europeia antes de serem cultivados ou importados para a Europa. Mas se a Comissão Europeia tem uma posição maioritariamente favorável, os governos europeus estão divididos.
“O objectivo de Barroso é introduzir os OGM na Europa o mais rapidamente possível. Por isso está a contactar directamente os primeiros-ministros e Presidentes para lhes dizer para 'apertarem' com os seus ministros [da Agricultura e do Ambiente] no sentido de pô-los na linha”, comentou Helen Holder, da organização Amigos da Terra para a Europa.
Margarida Silva lamenta processo à margem dos canais oficiais e falta de transparência
Margarida Silva, coordenadora da Plataforma Transgénicos Fora, lamenta que esta ronda de negociações esteja a decorrer à margem dos canais e das instituições oficiais, denunciando a falta de transparência. “Infelizmente, o objectivo não é tentar compreender a situação europeia e as preocupações do sector e dos consumidores para encontrar uma solução que compatibilize a legislação. É uma tentativa para forçar a aceitação”, disse a bióloga ao PÚBLICO.
Traçando uma fotografia da política europeia, Margarida Silva destaca como os Estados membros que mais se opõem aos OGM a Áustria, Grécia, Polónia e Hungria. Do outro lado estão o Reino Unido, a Suécia, Holanda e República Checa. “Portugal tem sido muito mais a favor, ainda que com poucas abstenções” nas votações.
Actualmente apenas o milho transgénico pode ser cultivado na União Europeia. No ano passado, a área de cultivo geneticamente modificada em Portugal atingiu os 4199 hectares, na mão de 164 explorações. A maioria localiza-se no Alentejo.
No entanto podem ser importadas cinco espécies agrícolas: milho, soja, colza, algodão e beterraba. À espera de autorização estão o arroz, a batata e o trigo.
Os OGM chegam a Portugal mas os consumidores não os vêem, dado que a maioria é utilizada nas rações dos animais. O problema, segundo a bióloga, é que “quando compramos carne ou peixe de aquacultura, não temos garantias de que os animais não tenham sido alimentados com OGM”.
Nas prateleiras dos supermercados o que está mais à vista é o óleo de soja. “Aqui é muito importante que as pessoas olhem para os rótulos nas garrafas”. Margarida Silva defende a necessidade de os consumidores se protegerem de “eventuais riscos” e de exigirem rotulagem dos produtos.
(Por Helena Geraldes, Ecosfera, 30/10/2008)