Desde 29 de outubro até 1º de novembro, cerca de 250 Guarani de 25 comunidades estão reunidos no Aty Guasu (grande assembléia) na terra Ñanderu Marangatu, em Antônio João, no Mato Grosso do Sul. Os Guarani estão discutindo o trabalho de identificação das terras indígenas no estado e também lembram os 25 anos do assassinato de Marçal de Souza (Tupã´i).
No dia 30, os indígenas avaliaram como está o processo de identificação das terras e como fortalecer a luta pela terra. Muitos Guarani não sabem como são realizados estudos e o que acontecerá quando estes forem concluídos. Também estão inseguros em relação à demora dos trabalhos. “Em muitas aldeias os GTs [grupos técnicos] ainda não foram e as pessoas não sabem quando todo o processo de demarcação vai terminar. Tem muita gente que está em lugar nenhum, na beira da estrada... A gente precisa de uma resposta concreta”, comentou a professora Leia Aquino, que vive na terra Ñanderu Marangatu.
Os participantes do Aty Guasu reforçaram a importância das comunidades contribuírem com os grupos técnicos de identificação e de realizarem Jeroki Guasu (dança/ritual) nos terras do povo.
Hoje (31) os Guarani apresentarão suas demandas para representantes do Ministério Público Federal e da Fundação Nacional do Índio (Funai) que irão a Aty Guasu. No sábado, os indígenas assistirão a um vídeo sobre a luta de Marçal de Souza e haverá uma caminhada até o local onde ele foi assassinado em 25 de novembro de 1983, na porta de sua casa. Os Guarani também irão o lugar onde seguranças de fazendeiros mataram Dorvalino Rocha, em 24 de dezembro de 2005.
Violência em Ñanderu Marangatu
Marçal e Dorvalino morreram lutando pelos direitos indígenas e pela terra Ñanderu Marangatu. A terra, apesar de homologada desde 2005, continua ocupada, na sua maior parte, por um fazendeiro. O Supremo Tribunal Federal suspendeu, ainda em 2005, os efeitos da homologação até que seja concluído um processo de interrupção da demarcação que corre na Justiça Federal em Ponta Porã (MS). Os indígenas, que vivem em 100 hectares da área (homologada com 9.316 hectares), são constantemente ameaçados por pistoleiros.
Segundo Leia, no sábado passado, 25 de outubro, um grupo de adolescentes e crianças estava indo a um riacho quando os pistoleiros atiraram em direção aos jovens. As adolescentes conseguiram correr até a aldeia, mas as crianças (7 a 10 anos) fugiram para o mato e passaram 8 horas desaparecidas. Os pistoleiros também afastaram, com tiros, os adultos que tentaram procurar as crianças.
(Cimi, 31/10/2008)