Foi apresentado ontem em Bruxelas, na Bélgica, o relatório da Comissão dos Episcopados da Comunidade Européia (COMECE) sobre as mudanças climáticas. O documento é intitulado "Reflexão cristã sobre mudança climática" e foi elaborado com a contribuição de 10 cientistas. Um deles, o docente da Universidade de Louvain e vice-presidente do Comitê intergovernamental para as mudanças climáticas (IPCC), Jean-Pascal van Ypersele, afirmou que o texto focaliza o impacto da mudança climática nos ecossistemas e nos indivíduos, e esboça os desafios políticos neste âmbito.
Para o professor, as categorias mais vulneráveis são os pobres, as crianças e os anciãos, o que implica um empenho à "solidariedade entre as gerações".
"Se o aquecimento prosseguir com os ritmos atuais, 20 a 30% das espécies animais e vegetais poderão se extinguir", explica Jean-Pascal van Ypersele. Para ele, é possível e urgente intervir, modificando os comportamentos individuais, intervindo nos sistemas de produção e limitando o consumo. "Até mesmo a crise econômica atual, mesmo constituindo um grave problema para todos os países do mundo, poderia se tornar uma oportunidade", destaca, porque poderiam ser introduzidas modificações positivas.
Para o presidente da COMECE, Dom Adrianus H. van Luyn, da mudança climática emergem considerações éticas universalmente válidas e indicações para a comunidade cristã. Segundo ele, "é preciso que se volte a considerar as pessoas não somente como consumidoras, mas como sujeitos espirituais, no centro de relações, com responsabilidades individuais e coletivas em relação aos pobres e aos países menos desenvolvidos".
Dom van Luyn indicou três palavras-chave que devem nortear esse novo paradigma: "Espiritualidade, que é o contrário da secularização; solidariedade, o oposto de qualquer forma de individualismo; e sobriedade, para vencer o materialismo e o consumismo, que nos levam a não respeitar o meio ambiente". (BF)
(O Ecumene, 30/10/2008)