(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
política ambiental França política energética
2008-10-30

Paris - Na teoria, parece o plano perfeito. Objetivo, relevante e “viável”, conforme boa parte dos ambientalistas, estudiosos e da sociedade civil da França. Não por acaso, se firmou como uma das principais bandeiras do governo de Nicolas Sarkozy. Uma estratégia verde que, aos poucos, leva a atual presidente da União Européia à frente da luta contra o aquecimento global – pauta discutida à exaustão nas conferências climáticas do continente. Desde o lançamento, o Grenelle do Meio-Ambiente - referência aos acordos de Grenelle assinados durante as greves e os conflitos de maio de 1968 - é levado a sério.

A revolução “ecológica” francesa começou antes mesmo de Sarkozy ganhar o Palácio do Eliseu. O tema meio ambiente foi dominante na campanha dele e da também candidata Segoléne Royal. Fato inédito na história nacional, de acordo com Dominique Campana, diretora da Ademe -  agência para assuntos ambientais criada pelo presidente. “Para se ter uma idéia, em 2002, nem durante o período eleitoral, falou-se em agenda verde. Enquanto que, ano passado, era objetivo comum transformar os conceitos da sociedade neste sentido. Um grande avanço”. Para Campana, Sarkozy foi o presidenciável mais ecológico que a França já teve. “Principalmente quando ele assinou o pacto de Grenelle – e o mundo parou para ver o que tinha a dizer. Hoje o Ministério do Meio Ambiente é um dos mais ativos na França”.

A vice-ministra para questões ambientais, Nathalie Kosciusko-Morizet, sustenta que o país tem, neste momento, responsabilidade dobrada. “Até o fim deste ano, a França preside a União Européia. Por isso vai liderar a luta contra as mudanças climáticas”. A redução das emissões de gás carbônico e do efeito estufa é uma das obsessões da Grenelle do Meio Ambiente – entre mais de 250 resoluções. Para isso, as ações estão concentradas, principalmente, na reformulação dos meios de transporte.

Uma das mudanças foi a implementação, no início do ano, do sistema “bônus-malus”. Ganha o bônus de 200 a 1.000 Euros o comprador de carros que respeitem o meio ambiente e emitam abaixo de 130 gramas de dióxido de carbono por quilômetro rodado (g/km). Fica com o malus – paga entre 200 a 2.600 Euros a mais – quem compra veículos com emissões acima de 160 g/km. Em suma: quem insiste pela compra de um “possante” poluente, vai pagar caro.

Diante disso, o consumidor vai mudando de atitude: a venda de carros menos poluentes aumentou cerca de 15% em 2008, comparado ao mesmo período do ano passado. Outra prioridade no tratado ambiental da França é a mudança nos padrões de consumo energético. De acordo com outro diretor da Ademe, Matthieu Orphelin, os novos empreendimentos imobiliários estão, agora, alçados ao conceito de energia positiva – ou seja, os prédios deverão produzir toda a energia que consumirem. “Até 2020 vamos observar uma transformação sensível nesta direção, quando todos os edifícios em construção deverão obedecer a esse padrão”.

Lento e gradual
Orphelin explica que os investimentos em projetos na área ultrapassam 800 milhões de Euros. “O setor imobiliário é o maior consumidor de energia na França! As indústrias ainda consomem muito também, é uma loucura. Mas estamos estudando os dispositivos que melhorem esses números”. O diretor da Ademe destaca o impacto social do projeto. “Vamos aumentar muito o número de empregos para dar conta desses novos prédios”. E garante haver um consenso neste estágio da caminhada. “É um objetivo global: dividir por quatro o consumo, em mais de 25%, até 2050. Mas as coisas andam muito mais devagar do que gostaríamos”.

Especialista no setor, o jornalista do “Le Monde” Michel Busat observa que a França está cada vez mais consciente em relação à crise de recursos energéticos. “Aumentou a tensão interna por causa disso. O país se apoiava em base nuclear – apenas. Agora está aprendendo a usar outras fontes”.  Atualmente, o consumo está divido da seguinte forma: 80% em energia nuclear; cerca de 20% em hidráulica e 10% em energias renováveis, gás e biomassa.

“Queremos manter e desenvolver a estrutura da matriz energética”, afirma Kosciusko-Morizet. “Sabemos que não podemos ir tão longe com a energia eólica, pela interferência das paisagens. Estamos apostando na solar. E ainda investimos na pesquisa aplicável. A França é muito conectada em relação à paisagem. E tem tradição quando o assunto é biomassa. Nos interessamos por esse tipo de pesquisa, assim como boa parte da Europa”.

Questionada sobre o uso de biocombustíveis, Kosciusko-Morizet afirmou: “Estamos avaliando a utilização da segunda geração de biocombustíveis para ver se não entra em conflito com a produção de alimentos. Estamos em meio a uma reflexão sobre os impactos ambientais disso”. A vice-ministra para questões ambientais salienta que o rigor aumentará, também, na preservação das espécies. “Nas áreas de conservação, estamos fazendo regulamentações mais severas, com medidas de proteção sobre o mar e às algas marinhas – em áreas onde há muita pesca. Também estamos estudando a criação de dois novos parques nacionais. E não tiramos o olho da migração das espécies”.

O exemplo parisiense
Em meio à chamada revolução ecológica, o governo quer insistir nas parcerias estratégicas. “Queremos estreitar cada vez mais os laços - principalmente com a América Latina. Ano que vem será o ano da França no Brasil. Já estamos conversando sobre acordos relacionados às mudanças climáticas, aquecimento global, poluição e desenvolvimento sustentável. Queremos uma cooperação mais ativa neste sentido”, explica Campana, da Ademe, que assinala a importância das iniciativas locais.

Paris é um belo exemplo. Reeleito em março deste ano, o prefeito Bertrand Delanoë vem transformando o tráfego nos últimos anos. Fez corredores especiais para ônibus, restringiu a circulação de carros para estimular a passagem de bicicletas e pedestres. Completou o ciclo com a distribuição de mais de 30 mil bicicletas por mil pontos da capital parisiense. Ativado desde outubro de 2007, o serviço “sobre duas rodas” ajudou diluir o trânsito, e se tornou mais uma alternativa para a locomoção dos turistas.

Segundo Anne Hidalgo, da prefeitura de Paris, o sistema só trouxe excelentes resultados. “Com a Velib – nome dado ao projeto das bicicletas – o tráfego de carros caiu mais de 20% até agora”. O arquiteto brasileiro Roberto Andrés está de férias em Paris e, praticamente, deixou de usar metrô e ônibus. “Prestando atenção nas regras e no trânsito, na tem erro. Você só se diverte, curte mais a cidade”. A maioria dos franceses compartilha a opinião, a exemplo do jornalista Renato Galliano, residente na capital francesa há 20 anos. “Para quem não tem carro também é ótimo. E ainda ajuda o meio ambiente”.

Uma das questões cruciais para a prefeitura de uma das cidades mais visitadas no mundo é intensificar o debate ecológico com os próprios parisienses. “Uma discussão que se estendeu para o país inteiro. Grenelle veio para estabelecer todos os limites”. Na opinião de Anne Hidalgo, será fundamental conscientizar a população – não basta apenas reformular o conceito de edifícios públicos e privados, por exemplo. “Como não podemos deixar as pessoas de fora durante esta mudança, temos que fazer algo dentro das casas, com a população. E, mais importante ainda: nosso desafio é fazer com que ser “ecologicamente correto” seja acessível a todos os níveis. Ecologia não é um luxo. Deve ser uma obrigação”.

(Por Fernanda Martorano Menegotto, OEco, 30/10/2008)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -