As mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global podem forçar a migração de culturas agrícolas típicas de determinadas regiões do Brasil, alertou nesta quarta-feira (29/10) um integrante brasileiro do Painel Intergovernamental da ONU para a Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês).
"Com aumento de dois, três graus Celsius o café muda para o sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e até fora do Brasil", disse o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e especialista em mudanças climáticas Carlos Nobre.
"O Brasil é uma potência agrícola, que tem um potencial muito grande a ser explorado, talvez o maior do mundo. E as mudanças climáticas diretamente afetam a agricultura", disse Nobre a jornalistas após apresentação na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em Brasília.
Além da agricultura, segundo o pesquisador, a saúde da população também deve ser impactada pelas mudanças no clima. "Os Estados mais frios, que não tem um problema muito grave ainda de doenças transmitidas por vetores --insetos como os de malária, dengue e outras--, vão ter um clima adequado em 50 anos", comentou.
O desmatamento é o principal responsável pelas emissões brasileiras dos gases do efeito estufa e, nesta quarta-feira, dados do Inpe apontaram queda no desmatamento da Amazônia, para 587 quilômetros quadrados em setembro, contra os 756 quilômetros quadrados do mês anterior.
Especialistas do IPCC defendem a necessidade de redução de 80 por cento das emissões globais dos gases do efeito estufa até 2015.
"Tenho dois recados sérios: precisamos reduzir muito as emissões e precisamos reduzir já", disse Martin Parry, um dos coordenadores do painel, para quem um atraso de 10 anos na tomada de providências contra as emissões resultará no aumento de 0,5 grau Celsius na temperatura média do planeta.
(Por Alice Assunção, Reuters, 29/10/2008)