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insumos agrícolas celulose e papel
2008-10-30

Os setores exportadores da economia gaúcha são os primeiros afetados com a crise financeira mundial. Na agricultura, as perdas iniciaram com a especulação promovida pelas empresas de celulose, mas agora já atinge a produção do agronegócio e indústrias, como a de máquinas e implementos agrícolas.

Na entrevista a seguir, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Horizontina (RS), no Noroeste gaúcho, Alcindo Kempfer, fala sobre o impacto das demissões anunciadas pela unidade da John Deere no município. Também alerta para expansão dos prejuízos no setor devido à crise. Os principais afetados, como sempre, são os trabalhadores.

Agência Chasque - A empresa John Deere já entrou em contato com o sindicato?
Alcindo Kempfer
- Na verdade, ela entrou em contato com o sindicato por telefone na quinta-feira passada (23) informando a necessidade desse ajuste, dessas demissões. Eles falaram extra-oficial, por telefone, de que seriam em torno de 200 trabalhadores e trabalhadoras.

Que impactos as demissões na John Deere geram na região?
Kempfer
- A principal empresa aqui da região é a John Deere. As demais 90% trabalham em função da John Deere. No entanto, estas sistemistas ainda não tinham iniciado a contratação de trabalhadores para aumento de produção. Então não se verifica, até o presente momento, a necessidade de demissões. O ano de 2007 foi o da recuperação para o setor de máquinas e implementos agrícolas, junto com o de 2008. Existia toda uma expectativa de 2009/2010 ser mais ainda promissor do que este ano. Tanto que na John Deere foram contratados 300 novos trabalhadores neste ano. E agora a empresa diz que há a necessidade de fazer o corte dos 200 servidores.

Quais são os motivos dados pela empresa para justificar as demissões?
Kempfer
- A problemática da agricultura, que são os clientes das empresas que produzem máquinas e implementos, são os créditos. Evidentemente que com a crise financeira, vai diminuir a oferta de dinheiro para esse setor. Mesmo que o governo federal diga que não vai faltar dinheiro para a agricultura do Brasil, mas acontece que pode faltar dinheiro na agricultura para fora do país. Por exemplo na Argentina, que é um dos grandes compradores nossos de máquinas e implementos agrícolas do RS. Então pode faltar dinheiro para financiamento. Ao mesmo tempo, pode encarecer o financiamento devido à elevação de juros. Outra questão que também se observa é a frustração de safra, que também tem ocorrido na Argentina. O país sofre uma estiagem mais prolongada neste ano. Inclusive a informação que temos aqui, da empresa John Deere, é que houve um cancelamento de 300 máquinas justamente para os argentinos em função da estiagem.

As demissões em Horizontina são um fato isolado ?
Kempfer
- Até pode ser um fato isolado aqui em Horizontina, porque a gente tem conversado com os diretores de sindicatos de Santa Rosa, Ijuí, Carazinho, Panambi e Passo Fundo e lá não está sendo verificado esse tipo de demissões. Nesses municípios, o que ocorre é a não-efetivação dos trabalhadores que estavam no contrato ou temporário ou de experiência. Tendo em vista de que havia uma expectativa de aumento de demanda de mercado neste ano e, principalmente, em 2009. E como a tendência é de que essa expectativa não se confirme, não está havendo a efetivação dos contratos.

Pode-se dizer que a crise mundial começa a atingir o setor de máquinas no Rio Grande do Sul?
Kempfer
- A gente tem que dizer que é um momento de cautela. Esperamos que seja somente isso, que o mercado comece a se ajustar, porque esta crise é diferente das outras. A outra problemática em 2005 e 2006 foi em função da queda do preço das commodities, principalmente do soja e do milho que abaixaram muito o preço. E a desvalorização dólar, que acabou fazendo com que a concorrência externa ficasse inviável para as empresas do Brasil. E aí aconteceu aquela grande crise de demissões do setor. Dessa vez, avaliamos que é uma crise diferente. A crise que poderá nos atingir é justamente em função das frustrações agrícolas, que pode se aliar a outras questões, como a falta de financiamento e o encarecimento do financiamento, ou seja, o custo do financiamento se elevar.

(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 29/10/2008)


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