A elevação de investimentos feitos pelo governo em ciência e tecnologia deve ser acompanhada de maior participação do setor privado em pesquisa e desenvolvimento. Esse foi um dos principais pontos ressaltados pelos participantes de audiência pública promovida sobre o tema, nesta quarta-feira (29/10), pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT).
O Brasil investe atualmente cerca de 1% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em ciência e tecnologia, segundo informou o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Marco Antonio Zago. É o país que mais dedica recursos ao setor na América Latina, acrescentou, tanto em relação ao PIB como em valores absolutos. Mas 80% das pesquisas, ressaltou, encontram-se nas universidades.
- Se queremos usar a ciência e a tecnologia para o desenvolvimento, esse quadro deve mudar. Precisamos de mais pesquisadores no setor produtivo - disse Zago.
A mesma sugestão foi apresentada pelo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Marco Antonio Raupp. De acordo com ele, os cientistas estão "sensibilizados" com os avanços feitos no setor durante o atual governo. Entre eles, como mencionou, a integração da ciência e da tecnologia com a formulação de políticas nacionais de desenvolvimento. O cientista considerou, porém, "crucial" o aumento dos investimentos privados em pesquisa.
- Se estamos satisfeitos, também nos encontramos preocupados, pois estão chegando as nuvens escuras da crise internacional. É preciso que se estimule a inovação dentro das empresas. Não temos muita tradição nisso, mas já contamos com exemplos - afirmou Raupp, citando entre os exemplos de sucesso as atividades de pesquisa da Petrobras, da indústria aeronáutica e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC), Jacob Palis, concordou com a existência de um "momento extraordinário" para o setor no país, mas advertiu para a necessidade de os pesquisadores brasileiros conquistarem maior projeção internacional.
- O Brasil precisa ganhar um Prêmio Nobel - afirmou Palis, que apresentou ainda uma sugestão de ampliação de investimentos na região amazônica.
Formação
Palis ressaltou o empenho da ABC na busca de novos talentos científicos em todo o país. Raupp, por sua vez, recordou a necessidade de maior atenção ao ensino básico de ciências desde a educação fundamental como forma de atrair a atenção dos jovens. E Zago admitiu que o Brasil ainda encontra-se em posição "desvantajosa" na área de recursos humanos.
Segundo o presidente do CNPq, o país forma anualmente cerca de dez mil doutores. O número pode ser considerado grande, quando se observa que são formados no Brasil cerca de 75% dos doutores da América Latina. Mas também pode ser visto como modesto, quando se constata que equivale ao número de doutores de países como França e Espanha, que têm uma população bem menor.
Além de aumentar o número de pesquisadores, sugeriu o presidente do CNPq, o país também deveria rever suas prioridades. Ao traçar um quadro comparativo com a China, ele observou que a principal ênfase do país asiático está na formação de recursos humanos ligados à engenharia, enquanto no Brasil a engenharia ocupa apenas o quinto lugar, atrás de áreas como medicina e agricultura.
- Precisamos não apenas formar mais pessoas, como também mudar um pouco o perfil dos cientistas e tecnólogos formados no Brasil - ressaltou Zago.
Autor do requerimento para a realização da audiência, o senador Renato Casagrande (PSB-ES) defendeu a descentralização de recursos destinados à ciência e à tecnologia para que estados menores também sejam beneficiados. Ele concordou ainda com a necessidade, ressaltada pelos convidados, de maior participação do setor privado. A audiência foi presidida pelo senador Wellington Salgado (PMDB-MG).
(Por Marcos Magalhães, Agência Senado, 29/10/2008)