Erosão, inundações, desabamento de obras e residências, desmoronamento de terra e rochas, contaminação de água e solo são problemas que poderiam ser evitados com o melhor planejamento das ocupações das cidades. A opinião é do geólogo Lázaro Valentin Zuquette, doutor em Geotecnia e professor da Universidade de São Paulo (USP), que esteve em Curitiba ontem para o 44º Congresso Brasileiro de Geologia. “O Brasil está longe de ter o planejamento e o conhecimento necessários em suas ações e também longe de as pessoas que estão no poder considerarem importantes esses conhecimentos”, diz.
E a situação pode piorar nos próximos anos, se não houver a mudança dessa postura. Atualmente, metade da população vive nos grandes centros urbanos. Em 12 anos, segundo Zuquette, essa parcela será de 70% – crescimento impulsionado principalmente pela comodidade de se viver nas áreas urbanas. “É preciso parar e refletir sobre o que pode ser feito já para garantir qualidade de vida e prevenir os problemas que são cada vez mais freqüentes.”
Na grande Curitiba, exemplifica o professor, a água retirada de cavernas subterrâneas (aqüíferos) é usada e a falta de um estudo adequado e do respeito a um limite já levou a problemas ambientais. “Quando as cavernas perdem a sustentação, o teto afunda e o que está em cima é destruído. Nesse e em todos os outros casos de falta de planejamento, a reconstrução exige a aplicação de muito dinheiro e esses recursos deixam de ser destinados à educação ou à saúde”, alerta.
O professor defende que hoje as cidades podem e devem se preparar para acolher seus moradores e aqueles que ainda virão. Para isso é preciso abandonar a cultura do imediatismo, que propõe a tomada de ações somente na medida em que os problemas vão acontecendo e também o repasse das responsabilidades para outras pessoas. Além disso, Zuquette diz que é importante ter ações fundamentadas no planejamento estratégico com uma visão geral e não setorial, como ocorre hoje. “Ainda é possível verificar as modificações a serem feitas. Mas elas devem ser previstas para anos e anos, mantidas e repensadas ao longo do tempo e não abandonadas a cada eleição.” Caso contrário, problemas que já enfrentamos como a falta de energia, de água, o alto preço do material de construção e das próprias obras de saneamento, vão aumentar. “A punição também precisa ser maior. Se um prefeito fosse questionado juridicamente por ter pago um altíssimo preço em um obra, todos se obrigariam a estudar opções que custariam menos antes, durante e depois das ações”, diz.
(Gazeta da Povo, 29/10/2008)